quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O CAMPO MAGNÉTICO E A VIDA


TRABALHO DE PESQUISA: “O CAMPO MAGNÉTICO E A VIDA”

Organizado por Carlos Bernardo Loureiro


O CAMPO MAGNÉTICO

Acreditamos que a maioria dos leitores saiba o que vem a ser um campo magnético. Pelo menos é raro encontrar-se alguém que ainda não tenha presenciado um fenômeno produzido pelo campo magnético; por exemplo: a agulha de uma bússola que teima em apontar para os pólos Norte e Sul da Terra. A bússola revela que nos achamos, desde que nascemos, mergulhados em um campo magnético, entretanto, nem percebemos tal situação. Cosncientizamo-nos desse fato quando observamos o comportamento da agulha. Esse fenômeno ensina-nos, também, que nem sempre percebemos um dado tipo de campo, embora ele seja uma realidade. Assim, o fato de estarmos mergulhados em um campo magnético logo nos é revelado quando dispomos de uma bússola. Poderá ocorrer que sintamos a influência de uma campo, sem que necessitemos do auxílio de um aparelho especial. Por exemplo, notamos a ação do campo gravitacional da Terra, embora a agulha de uma bússola se mantenha sensível a esse campo. Esse fato revela-nos uma questão muito importante: os campos exigem meios adequados para detectá-los. Assim, um aparelho como a bússola detecta muito bem o campo magnético, mas fica indiferente ao campo gravitacional e ao campo elétrico também vice-versa, um voltímetro que registra o campo elétrico é insensível ao magnético e ao gravitacional.

Será que o fato de não percebemos um dado tipo de campo significa que sejamos totalmente imunes à ação do mesmo? Por exemplo, teria o campo magnético alguma influência sobre um ser vivo (nosso caso)? Houve uma época em que se acreditava que o ímã (campo magnético) possuísse propriedades curativas. O famoso médico e alquimista Auroelus Phillipus Theophrastus Paracelsus Bombast Von Hohenheim (1499-1541), mais conhecido pelo cognome de Paracelso, afirmava:

“Sustento clara e categoricamente, fundamentando-me no que a experiência me tem revelado, que o ímã guarda um altíssimo segredo que, enquanto permanecer desconhecido, nos impossibilitará toda a ação sobre muitas enfermidades”.

O ímã, segundo Paracelso, seria uma verdadeira Panacéia. Curaria praticamente todas as moléstias, as mais variadas e conhecidas em sua época, tais como: “O fluxo dos olhos, dos ouvidos, do nariz e das articulações externas; por este mesmo método curam-se as úlceras, as fístulas, o câncer e os fluxos menstruais, etc.”.

Sem embargo de tais afirmativas de Paracelso serem passíveis da desaprovação da medicina atual, elas eram aceitas naquelas época pelos seus numerosos seguidores, mais ainda, os médicos de então aplicavam o ímã, com sucesso, na cura das moléstias indicadas por Paracelso!

Foi exatamente um caso de cura de dores do estômago crônicas de uma senhora, e resistentes aos tratamentos convencionais, que levou Franz Anton Mesmer (1734-1815) a interessar-se por aquele processo terapêutico. Após algum tempo de observação, Mesmer chegou à conclusão de que não era o magnetismo do ímã, a causa das curas obtidas pela sua aplicação e sim outra espécie de “magnetismo”. Segundo Mesmer, era o Magnetismo Animal, a partir de 1776 Mesmer declarou-se contrário à teoria de Paracelso acerca das virtudes curativas atribuídas ao ímã. Ele conclui que o poder curativo devia-se a outro tipo de magnetismo, que não o físico produzido pelo ímã. Mesmer admitiu que havia, na realidade, um magnetismo animal produzido pelo terapeuta. Era esse “fluido vital” que produzia a cura das enfermidades, afirmativa a ele. Apoiado nessa hipótese, Mesmer efetuou também curas espetaculares!

Veremos, a seguir, que Mesmer estava correto ao considerar a inutilidade do ímã na cura das moléstias. Entretanto, não estamos afirmando, com isso, que as teorias de Mesmer são absolutamente certas. Tal questão foge à diretriz deste modesto trabalho.

OS FORTES CAMPOS MAGNÉTICOS AGEM SOBRE OS MEIOS BIOLÓGICOS.

Os ímãs usados por Paracelso e seus seguidores, portanto disponíveis naquela época, eram portadores de campo magnético muito fraco. Eram obtidos de um minério de ferro, a magnetita (óxido magnético de ferro).

Atualmente, pode dispor-se de campos magnéticos estáticos de grande intensidade, produzidos artificialmente por bobinas alimentadas por corrente elétrica. Além disso, existem ligas ferromagnéticas capazes de armazenar campos magnéticos estáticos, com as quais se fabricam superímãs de cerâmica, alnico, samário-cobalto e neodímio-ferro-boro. Esses ímãs chegam a alcançar campos remanescentes da ordem de 8.000 a 12.000 Gaus; centenas de vezes superiores aos ímãs disponíveis no tempo de Paracelso e Mesmer.

As pesquisas mais recentes, feitas com o campo magnético estágio de alta intensidade, revelaram que este campo inibe o desenvolvimento dos meios biológicos! O campo chega a ser letal para certos seres vivos! Vamos exemplificar:

Em 1948, na Universidade de Budapeste, o Dr. Jeno M. Barnothy levou a efeito uma interessante experiência com ratos submetidos a forte campo magnético estático. Dois grupos de ratos, de uma mesma ninhada de seis, foram selecionados para uma experiência em campo magnético estático de =~5.900 Oresteds (gradiente médio de 100 OE/cm). Cada grupo consistiu em um rato macho e duas fêmeas. Ambos as grupos foram alojados em caixas especiais, idênticas, dotadas de ventilação e demais acessórios para garantir água, alimentação, higiene e conforto.

Um desses dois grupos foi colocado entre os pólos de um eletroímã. O outro foi situado em idênticas condições entre os pólos de outro eletroímã igual, mas que iria manter-se desativado. Os ratos permanecem confinados quatro dias antes de uma dos magnetos ser ativado, a fim de ensejar o necessário acasalamento. Após essa fase preparatória, um dos eletroímãs foi ativado. Diariamente, ao meio dia, os ratos de ambos os grupos eram pesados, a fim de verificar-se o desenvolvimento dos mesmos e as eventuais alterações que poderiam ter sido provocadas nos que se encontravam sob a ação do Campo Magnético Estático. Verificou-se que o Campo Magnético Estático retardou o desenvolvimento dos ratos a ele submetidos. Tal diferença entre os dois grupos mostrou-se mais acentuada a partir do quinto dia. Daí em diante, o desenvolvimento dos ratos submetidos ao Campo Magnético tronou-se significativamente menor; uma das fêmeas não aumentou praticamente de peso durante as três semanas subsequentes sob a ação do campo. O macho começou a perder peso no décimo primeiro dia e morreu logo depois.

É importante assinalar que esse “efeito letal” nos ratos machos foi também observado em outras experiências semelhantes. Ainda sem uma explicação, tal fenômeno necessita de mais estudos.

As ratas fêmeas não mostraram nenhum sintoma que sugerisse outros efeitos adversos. Após quatro semanas de permanência sob a ação do campo, elas não haviam, até então, dado cria! Uma vez livres da ação do Campo, foram acasaladas novamente e engravidaram normalmente, dando nascimento a descendentes perfeitos após vinte dias, período normal de gestação desses roedores. Tal efeito sugere que o Campo Magnético Estático apenas inibiu o desenvolvimento do embrião que poderia Ter resultado do primeiro acasalamento. A fertilidade das ratas não foi alterada, pois elas engravidaram quando acasaladas após haver cessado a exposição ao Campo.

O pesquisador, Dr. Jeno M. Barnothy considerou que, sem dúvida, há muitos fatores que poderiam ter ocasionado o não desenvolvimento dos ratos. É admissível que o Campo Magnético houvesse provocado um ou outro desses fatores. “Todavia, não deve ser excluído que o Campo Magnético possa retardar as atividades mitóticas(*) em geral”, afirma ele.

A partir de 1948, o Dr. J. M. Barnothy levou a efeito outras experiências, a fim de verificar a influência do Campo Magnético Estático no desenvolvimento de embriões no útero de ratas, bem como sobre o crescimento de tumores implantados e espontâneos em ratos. Tais observações, justamente com o efeito do Campo sobre a formação do sangue, apoiam a suposição de que o Campo magnético Estático retardam as atividades mitóticas em geral. (Barnothy, 1964, pp.93-99).

PRINCIPAIS EFEITOS PRODUZIDOS PELO CAMPO MAGNÉTICO ESTÁTICO

A lista dos efeitos observáveis, que o Campo Magnético Estático pode produzir em seres vivos , é bastante ampla. Limitar-nos-emos a enumerar os que mais nos chamaram a atenção. São rejeição de tumores implantados; alterações hematológicas; retardamento na cura de ferimentos e na regeneração de tecidos; efeitos sobre o sistema nervoso central; queda da temperatura corporal; desaparecimento do ciclo do impulso reprodutor; reabsorção de embriões no útero; decréscimo na respiração dos tecidos; inibição de culturas bactéricas durante sua fase estacionária máxima e alterações patológicas no fígado”. (Barnothy, 1964, p.18).

As explicações para esses efeitos, em sua grande maioria inibitórios em relação ao desenvolvimento dos meios biológicos, podem ser variadas. Algumas delas, as mais imediatas, basear-se-iam na possível alteração de algumas propriedades físico-químicas das substâncias orgânicas.

A primeira substância em que se pensa, quando se observa o fenômeno do retardamento provocado pelo Campo Magnético, no processo de desenvolvimento de alguns vivos como os ratos, é a tripsina. Essa substância é encontrada no suco pancreático e é fator muito importante na nutrição dos animais. A tripsina é uma enzima catalisadora da hidrólise das proteínas, facilitando o desdobramento dessas substâncias em peptinas, polipeptídeos e, finalmente, em aminoácidos. Desse modo, as proteínas ingeridas nos alimentos conseguem ser aproveitadas pelos animais, pois esses somente podem absorver os produtos resultantes da digestão das moléculas protéicas, garças à tripsina presente no suco gástrico. As proteínas são moléculas muito grandes e, por isso, não caberiam nos finíssimos canais das vilosidades intestinais. As moléculas dos aminoácidos são pequenas e conseguem passar por aqueles canalículos. Se faltar tripsina no suco gástrico, o animal come proteínas, mas não consegue digeri-las e assimilá-las, advindo daí a redução no seu desenvolvimento e até mesmo a morte por desnutrição.

Será que o campo Magnético Estático teria alguma influência sobre a tripsina? Se fosse esse o caso, teríamos explicado a ação inibidora do crescimento dos ratos e vários outros processos dependentes da nutrição e assimilação das substâncias protéicas. Naturalmente não se explicariam outros fenômenos como a reabsorção de embriões no útero, a rejeição de tumores implantados, o retardamento na cura dos ferimentos e regeneração dos tecidos; os efeitos sobre o sistema nervoso central; a queda de temperatura corporal etc. Entretanto, talvez a ação muito prolongada da desnutrição protéica pudesse provocar alguns dos distúrbios enunciados. Mas, experiências feitas com o objetivo de verificar a ação do Campo magnético Estático sobre a tripsina mostraram que, pelo contrário, o campo magnético ajuda a ativar e mesmo restabelecer as propriedades proteolíticas daquela enzima! (Cook e Smith, 1964, pp.246-256). Logo, os seres vivos submetidos à ação de fortes Campos Magnéticos deveriam, ao contrário, sofrer um estímulo em seu desenvolvimento. No entanto, observa-se exatamente o contrário. Qual seria a causa, ou causas, dessa ação inibidora dos processos biológicos provocada pela exposição a um forte Campo Magnético Estático? Talvez devêssemos procurar explicações baseadas em outros princípios que não os físico-químicos apenas.

O fato de registrar-se casos de inibição no desenvolvimento de embriões, até mesmo, a reabsorção de embriões no útero de ratas, retardamento no crescimento de ratos jovens, rejeição de tumores implantados, bem como atraso na cicatrização de ferimentos e outros processos dependentes de multiplicação celular, faz-nos pensar na possibilidade de interferência do Campo Magnético sobre outro tipo já suspeitado de Campo Biológico implicado na morfogênese e manutenção dos seres vivos. (Burr, 1972; Andrade, 1958, 1984, 1986; Sheldrake, 1981, 1988, 1991).

O HIPOTÉTICO CAMPO DA VIDA

Em meio à imensa variedade dos fenômenos naturais, a vida se destaca como o mais estranho e singular. Enquanto a tendência dos processos físicos e químicos é, da desorganização progressiva, do crescente desnível energético, da marcha para os estados mais prováveis, a vida surge como uma corrente oposta a essa meta universal! A vida tende para a organização crescente, para a evolução constante em busca do aperfeiçoamento em todos os sentidos, inclusive demandando alcançar o controle das leis que governam a matéria!

Em resumo, a vida é antientrópica e, com isso, ela contraria o segundo princípio da termodinâmica, que é uma lei universal.

Para explicar o surgimento da vida em nosso planeta, sem lançar mão de idéias religiosas criacionistas, os pensadores imaginaram várias teorias. Tais teorias podem dividir-se em duas grandes categorias, as mecanicistas e as vitalistas.

As primeiras, as mecanicistas, admitem que a própria matéria orgânica, após atingir um determinado estágio de complexidade e devido a fatores ainda desconhecidos, mas exclusivamente materiais, alcançou o nível biológico e prosseguiu daí em sua marcha ascensional de aperfeiçoamento, garças á seleção natural.

As hipóteses vitalistas consideram, também, como imprescindível o estágio orgânico complexo da substância a ser vitalizada, mas não aceitam a possibilidade da passagem espontânea do estado da matéria inerte para o de matéria viva. Os vitalistas supõem que essa transição só é possível mediante a intervenção de um princípio animador capaz de vivificar a matéria orgânica já em condições de recebê-lo e alojá-lo. Esse fator vitalizador seria o único de subtrair o composto orgânico à fatalidade entrópica devida ao segundo princípio da termodinâmica. Unida ao referido fator, a matéria inerte passaria ao estágio biológico e continuaria daí por diante em evolução constante graças ao mesmo fator auxiliado pela seleção natural.

Os vitalistas mais antigos supunham que referido fator seria uma espécie de ar que penetrava no organismo a ser vivificado. No Gênese, II-7, lê-se que o criador, após haver formado o primeiro homem, soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida e tornou-o um ser vivente. Com o evoluir da ciência, os vitalistas foram definindo melhor a sua concepção acerca do princípio vitalizador. Ultimamente, os mais modernos atribuem a um Campo Morfogenético o fator capaz de dar partida aos processos biológicos. Inicialmente pouco precisa, a descrição do princípio vitalizador passou a assumir maior coerência e clareza, graças aos trabalhos de Harold Saxton Burr e seus colegas (Burr, 1957, 1972) e às idéias de Rupert Sheldrake (Sheldrake, 1981, 9188, 1991).

A tendência, atualmente, é para atribuir-se a um Campo de forças o processo de vitalização da matéria orgânica. Naturalmente, o mecanismo desse processo é mais complexo do que possa imaginar simplesmente em termos de nossa física corrente. O citado Campo seria também responsável pela organização da forma do ser vivo. Daí a denominação dada por Sheldrake: Campo Morfogenético. A atuação desse Campo far-se-ia mediante uma ressonância mórfica. (Sheldrake, 1991, pp. 115-118).

Experiências mais recentes, levadas a efeito no instituto brasileiro de pesquisas psicobiofísicas – IBPP, parecem dar apoio às idéias vitalistas. Especialmente às teorias de Harold Saxton Burr e de Rupert Sheldrake, particularmente desse último. Entretanto, a hipótese de trabalho adotada pela equipe do IBPP implica a aceitação da tese espírita, que admite a sobrevivência do espírito. (Andrade, 1958, 1994 e 1986).

Andrade reconhece que, a inclusão das idéias espíritas em sua teoria, torna-a dificilmente aceitável pela atual mentalidade científica. Todavia, a hipótese espírita está tendo cada vez maior apoio nos fatos. Não nos referimos à abundante fenomenologia que surgiu nos séculos XVII e XIX, cujos resultados foram desprezados, em sua maioria, sob a alegação de fraude ou inconsistência do método experimental. Apontamos as modernas observações de casos de experiências de quase morte (EQM), as visões em leito de morte (VLM), as experiências fora do corpo (EFC), os casos que sugerem reencarnação (CSR) e as experiências de transcomunicação instrumental (TCI) como as mais recentes evidências a favor da existência e sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico. Pensamos que o establishment científico terá de mudar a sua posição neste sentido, no século que se avizinha. A essas evidências acrescentar-se-iam os resultados das experiências laboratoriais da equipe do IBPP, acerca do Campo Biomagnético. Tais experiências foram inicialmente realizadas em São Paulo no ano de 1967 e pouco depois interrompidas, após promissores resultados.

Em junho de 1995, as pesquisas a respeito do Campo Biomagnético foram retomadas no laboratório do IBPP, então em sua nova sede na cidade de Bauru, SP> Novos aparelhos e nova equipe foram empregados nessa Segunda fase de investigações do hipotético Campo da Vida. Sem querer dar como definitiva a descoberta desse novo tipo de Campo, queremos informar que há grandes probabilidades de que tal fato tenha ocorrido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, H. G.: (1958) – A Teoria Corpuscular do Espírito. São Paulo: Edição do Autor.

(1984) – Espírito e Alma. São Paulo: Pensamento.

(1986) – Psi Quântico. São Paulo.

BARNOTHY, Madeleine F.: (1964) – Biological Effects of Magnetic Fields. New York: Plenum Press.

BURR, H. S.: (1957) – The Electrodynamic Theory of Life. Yale Journal of Biology and Medicine. Vol.30, nº3.

(1972) – Blueprint for Immortality. London: Neville Spearman.

COOK, Elton S.; SMITH, M. Justa, O.S.F.: (1964) – Increase of Activity, in Biological Effects of Magnetic Fields. New York: Plenum Press.

SHELDRAKE, Rupert: (1981) – A New Science of Life. Los Angeles: J. P. Tar Cher.

(1988) – The Presence of the Past. London: Collins.

(1991) – O Renascimento da Natureza. Trad. Maria de Lourdes Eichenberger e Newton Roberval Eichenberg. São Paulo: Cultrix.

(*) Mitóticas – de mitose = divisão celular, na qual o núcleo forma cromossomo e estes se bipartem, produzindo dois núcleos filhos com o mesmo patrimônio genético original.

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imagem: Google

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A experiência de estar perdido

Quando fui convidado por Joyce Werres a escrever um artigo para o IJRS, senti-me um pouco desconcertado. Para determinar alguma medida do meu desconcerto – é de rir, mas é verdade, o fato de que nunca sabemos a exata extensão em que estamos perdidos; caso contrário seria muito fácil reencontrar o caminho – tenho de confessar que não pude responder imediatamente ao convite com um “sim”, ou algo mais concreto, como “Sim, e tenho precisamente algo preparado para essa ocasião”.


Não podia dizer plenamente meu “sim”. Tenho alguns artigos escritos por minha conta, há alguns anos que pratico esse exercício de escrita. Mas não pensei de imediato em publicar nada que tivesse escrito antes, lido ou não por outrem. Achei que o tema devia vir por si, algo que contribuísse para o momento que estou vivendo – pois, outra confissão: escrevo bem e com paixão quando o tema se apossa de mim, e considero isso uma coisa bem à moda de quem se interessa por Carl Gustav Jung e a imensa profundidade e extensão de sua obra.


Não é, pois uma questão de dizer que sei precisamente o que se sucede. Existem lampejos: por exemplo, uso de mim o pouco que sei quando estou escrevendo – escrevo com paixão, mas isso não quer dizer que escrevo como se estivesse cavando um poço na Lua enquanto pulo carnaval em Marte a bordo de uma nave que se dirige a Saturno, e o último período não foi escrito metaforicamente.


Esta semana estou muito sob a influência da questão que permeia a obra de Philip K. Dick, e considero algo muito próprio da psicologia complexa esse contínuo ato de perguntar o que é real e o que é ilusório, em conjunção com “o que é que constitui um autêntico humano”. Está viva em minha mente a tradução que acabei de terminar (há apenas dois dias) do texto em que Dick, considerado um dos maiores autores de ficção científica do século XX (parece-me que um dos prêmios que recebeu postumamente foi de “o maior”), em cuja obra se baseou o cinema ao filmar Blade Runner (Caçador de Andróides), O Pagamento, Screamers, Impostor, Total Recall (O Vingador do Futuro), Scanner Darkly. Uma olhada pela Internet e encontrei pelo menos um curta-metragem baseado em histórias desse escritor. Mas, desconfio sinceramente que temas como Matrix e Cidade das Sombras (Dark City), ou mesmo O Show de Truman, foram baseados, em algum grau, no pensamento inovador que Philip tem ao abordar as duas questões que o afligem.


Também é possível pensar de outro modo, reconhecendo, como de costume, que a revolução que o pensamento junguiano representa para a humanidade está muito longe de ser delimitada. Outra série de ficção científica que fez muito sucesso na década de 1990 foi Babylon 5, cujo autor (J. M. Straczynski) interessava-se explicatamente por Jung.


Romances são escritos, falseando a vida de Jung; mas contá-la de modo impreciso e às vezes até desonesto não é privilégio dos escritores – alguns, que se intitulam biógrafos, também o fazem dando tonalidades obscuras a algo cuja multiplicidade, estrutura e funcionamento precisa ser examinado mais detidamente do que pelo simples olhar de uma sociedade de consumo, uma configuração social que está acostumada a devorar as coisas antes mesmo de ser capaz de saber as conseqüências desse desenfreado apetite.


Há alguns anos isso me faz selecionar continuamente, receoso, o que leio. Assim pensando, cheguei em minha casa para encontrar uma série de TV empilhada ao lado de minha televisão. Fizera o aluguel da série Lost, que tanto lugar recebe dos meios televisivos e jornalísticos nos dias de hoje, sendo chamada, ao lado de Ronaldinho, de “fenômeno”.


Ronaldinho é um fenômeno por correr atrás da bola com maestria, embora não seja muito bom quando se trata de trabalhar em equipe. A série “Lost”, contudo, mostra um bando de gente perdida. Um vôo que se perde ao sobrevoar, desviado de sua rota, uma ilha perdida num lugar qualquer. Sem rádio, sem tevê, sem jornal. Os personagens parecem sobreviventes ao acaso, o que pensaríamos numa situação dessas à primeira vista: o vôo não foi fretado, são pessoas que por razões desconhecidas e em aparência não-congruentes foram parar lado a lado nos assentos de um vôo cuja missão era atravessar o oceano, saindo da Austrália, que os americanos chamam de “down under”. Na própria série os autores fazem questão de explicar, em um dos episódios, o motivo de escolherem (além dos custos) a Austrália como ponto de partida daquele vôo com uma anedota: “eles” (os norte-americanos) chamam a Austrália de “down under” porque é “o mais próximo que se pode chegar do inferno sem cair nele”1. Eu já vira esta expressão noutro filme de ficção “estonteante”, esse tipo de ficção que nos faz perder o rumo das coisas de chofre. Foi em “O Cubo Zero”2. Um personagem desapareceu; ao se fazer menção a ele, perguntando onde se encontra, respondem: “down under”, mas o letreiro da legenda em português diz: “Austrália”. Nada faz supor que aquele personagem tinha ido à Austrália. Ele estava morto, embora isso ainda não fosse revelado. Constata-se a partir disso que “down under” também pode significar a outra alusão à morte – pois, como se diz em português, “lá embaixo” também pode significar “debaixo da terra”.


Estar, porém, “lá embaixo”, remete a um lugar que a civilização não está acostumada a pensar. Não em termos de mapa mundi, pois nós estamos “aqui embaixo”, ou pelo menos é que dizemos quando apontamos no mapa nossa localização. O Sul do Brasil em particular, de onde agora escrevo, está “aqui embaixo” no mapa do mundo, no mapa do Brasil, no mapa da América do Sul.


Mas “embaixo” é uma posição que sempre se refere a algo que se supõe “em cima”. Costuma-se supor que a consciência é uma instância superior, está acima do resto do corpo se a consideramos situada na cabeça. E se o mundo estiver espetado num palito invisível, como uma dessas maçãs sendo assada ao fogo, poder-se-ia supor que a parte de baixo é essa em que estamos como na convenção do mapa – eles o fizeram, eles “lá em cima” o fizeram, então, parece natural, eles suporem que o lugar onde estão suas cabeças, não as nossas, seja “em cima”. Mas se a mão que segura o espeto estiver virada para baixo, então o lugar no mapa em que estamos “embaixo” na verdade é “em cima”.


Tudo é uma questão de perspectiva, o modo de perceber a realidade, e Jung sabia perfeitamente bem disso, pois escreveu a respeito e salientou de vários modos essa circunstância. Einstein também falou sobre o assunto, embora em outros termos, e não tendo em vista, num primeiro momento, a perspectiva psíquica do universo. Para Einstein as linhas de campo gravitacionais que cingem o universo e fazem com que ele esteja dependurado em cordões invisíveis não têm relação imediata com a psique. A Teoria da Relatividade, tanto em sua parte geral quanto em sua parte especial, explica a questão da perspectiva de uma maneira diferente da abordagem junguiana, mas fala de coisas muito próximas à psicologia complexa. A Física também discute a realidade – impossível seria se não o fizesse, pois, se os gregos buscavam a physis, não é por acaso que também investigavam psyche como um dos elementos estreitamente relacionados ao elemento primordial do universo. Se a physis está na geração do universo, a psyche, sendo alma, é a “substância” que anima o universo, como é vento sob as asas da borboleta – e aí a noção de psyche por vezes se confunde com a noção de pneuma, como hoje as religiões confundem, eventualmente, alma com espírito.


Não é à toa que Jung e Pauli colaboraram tanto. O conceito de sincronicidade não é uma invenção como, por exemplo, o automóvel a gasolina. É uma descoberta. É a retirada de uma ponta do véu de Ísis, que recobre todas as coisas. Uma parte do véu de Maya que se desfaz, para de novo recobrir a verdade.


Como não é à toa, em Lost, que os personagens se encontram “ao acaso” e mais tarde os acontecimentos, em plano triplo (passado, presente e futuro se superpõem nas cenas) vão oferecendo razões para deixar claro que onde não há razão aparente existe uma trama profunda cujos ramos só deixam perceber gradações em níveis.


A cada nível de profundidade, descobre-se mais e mais complexidade. Em flashbacks que mostram os passageiros do vôo 815 da Oceanic, um ou outro passageiro recebe o primeiro plano; enquanto isso, outros que aparecem no plano de fundo também são sobreviventes do desastre do vôo 815. Equivale a dizer que, de um modo ou de outro, seus “destinos” estavam sempre se cruzando, até esse momento crucial em que são todos reunidos numa ilha “perdida”. Antes estavam só no mesmo mundo, um planeta “perdido”, mas não “no meio” do Universo – os astrônomos da atualidade declaram de maneira praticamente unânime que estamos3 pendurados numa das pontas da Via Láctea. No entanto, desconfio que, se fosse depender do julgamento da política vigente no mundo, a Via Láctea apareceria no hemisfério superior dos mapas estelares.


É verdade. De certo modo, estamos perdidos. Perdidos no mesmo mundo, uma ilha no grande oceano do infinito. Também em relação a nós mesmos: somos consciência mínima, luz de vela, no meio desse luzeiro imenso, que teimamos em interpretar como escuridão, que é a psique.


De tal modo que só pode fazer sucesso estrondoso uma abordagem que evidencia, a todo o momento, como estamos perdidos, como acabamos nos encontrando uns aos outros e é esse ato de reconhecer nossos pontos em comum, nossos pontos de conexão, que dá tanto sentido a nossas amizades, às nossas afinidades, e ilumina os caminhos da vida, apresentando sinais por onde podemos ir tateando com nossas pequenas velas através da penumbra.


De tal maneira que temos a ilusão de que não estamos perdidos, pois nos encontramos. Topamo-nos, é verdade, de modo relativo. São referências. Temo-las entre uns e outros. Somos brasileiros ou não, gaúchos ou não, paranaenses ou não, entendemos essa ou aquela língua, nascemos neste ou naquele dia, nesta ou naquela hora, e tudo isso é absolutamente relativo. Não me parece que questionemos nossa existência, isto é, se escrevo isso, se leio isso, é porque existo. Não parece que sonho a escrita, ou que a escrita me sonha lendo. Mas os leitores que conhecem Memórias, Sonhos e Reflexões hão de se lembrar da visão de Jung de que ele era a visão de um iogue, e que esse iogue, ao parar de meditar, cessaria sua (a de Jung) existência. É o que diz Philip Dick: se Deus nos pensa, existimos. Se Deus parar de nos pensar, deixamos de ser, coisa bastante estranha para o pensamento que se crê “no topo do mundo”, mas um tanto natural para quem sabe que está “embaixo”.


Alguns se atrevem a pensar que, se não pensamos em Deus, ele não existe. Mas isso ou é uma falácia, um exercício inconseqüente de retórica, ou um convite à possessão e, por que não, à loucura também, caso de Nietzsche, segundo consta.


Não é possível matar a Deus sem ter – antes disso – de enfrentar as conseqüências de, pelo menos, perder-se, para, se for possível o reencontro, descobrir que de fato, como disseram os antigos, Deus é imortal e também (embora não apenas) por isso é Deus.


Estar perdido também pode ser sinônimo de estar à beira do inferno, lá embaixo. A loucura tem algo de semelhante a isso, podemos pensar neste instante. Quando Jung faz a metáfora de que é uma consciência mínima, uma vela que deve ser tomada com muito cuidado para permitir iluminar na escuridão, tem essa noção imprecisa que temos – os estudantes da psique – de que os limites entre loucura e sanidade são bastante tênues.


Podemos, aliás, pensar que a loucura não existe. Então, desaparecem os limites. Mas se pensarmos que a loucura é um dos graus da realidade4, também poderemos ter graus de sanidade5 como sendo degraus que ocupamos na escada que visa nos levar ao que em tese almejamos: sermos autenticamente humanos, não estarmos mais perdidos, sermos capazes de localizar com precisão nosso lugar e nossa essência não só no espaço e no tempo, mas em relação ao que sabemos de nós mesmos e dos outros, semelhantes ou não. Mas a loucura existe na medida em que somos capazes de atribuir, mesmo com todo o sentido de que somos capazes, a nós ou a outrem essa coisa nonsense de cavar buracos na Lua enquanto se pula carnaval em Marte no meio de uma viagem a Saturno6. É que, com tudo que podemos compreender também podemos nos recusar, conscientemente ou não, a fazê-lo.


Então atribuir um nome ao outro mantém nosso lugar seguro: “é louco”, “está perdido”, fica “lá embaixo”. Ou seja, “não é comigo”. São eles que estão Lost, eu estou aqui, sentado confortavelmente na frente da televisão, comendo pizza, tomando refrigerante. Do que será feito esse tempero? Cenas dos próximos capítulos. Cenas dos capítulos anteriores.


É também por isso que Lost faz sentido. Não apenas porque descreve metaforicamente a situação do mundo hoje, mas porque sempre se pode pensar que o que está ali não é verdade, enquanto eu, que tenho o controle remoto nas mãos, sou dono da verdade, tenha ou não que trabalhar amanhã, tenha ou não que dar um sentido e uma conclusão minimamente interessantes ao que escrevo, penso e vivo. Eu é que existo, eles não. A menos que eles possam me ver na tevê e me desligar com o controle remoto, mas isso é um absurdo.


No entanto, a mente infantil é capaz de crer nisso. Crer que Deus é dono do controle remoto que pode desligar todas as histórias em todas as televisões, ou que o detentor da suprema realidade é aquele que pode derradeiramente determinar se existimos ou não, e se vivemos os três tempos ou apenas um deles, se seremos fenômeno ou não. Pelo menos achamos que só a mente infantil é capaz disso.


Pode-se pensar que são divagações filosóficas de um diletante, talvez alguém que leu demais ou de menos, e não chegou à conclusão alguma – aliás, difícil chegar a qualquer conclusão simplesmente lendo.


É preciso viver, é preciso escrever no livro da vida, é preciso no livro da vida se inscrever.


Por isso Jung reputava tão vital para o ser e a individuação as rotinas da vida, essa circunstância de ter algo a que se agarrar, essa referência a partir da qual podemos nos determinar como humanos autênticos, que Philip Dick faz questão de citar em seu texto Como Construir Um Universo Que Não Se Despedaça Dois Dias Depois.


Ter uma família, alguém a quem amamos; uma missão na vida; um cachorro, talvez um urso de pelúcia. É outro aspecto de Lost cujos personagens sentem falta, a rotina da vida cotidiana. No entanto, em Roma, fazer como os romanos. É preciso adaptar-se à vida também, criando rotinas. Quanto ao cachorro, Jung cita, quando fala da participation mistique: “você e seu cachorro no escuro”. Ter alguém (ou algo) a quem (ou ao qual) se agarrar mesmo na escuridão – embora possamos pensar que no escuro é muito fácil criar participação mística com o que quer que seja.


Por isso também encontramos projeções: encontramos no mundo os aspectos que nos permitem fazer nele nossas almas, à semelhança do que Hillman disse, que “o mundo é lugar de fazer alma”.


Reconhecemo-nos também no mundo, para que possamos nos reconhecer em nós mesmos: perdidos, para que possamos nos descobrir. A Oração de São Francisco de Assis é neste aspecto uma lição de sabedoria: “Que eu procure mais...” fazer do que ser feito – amar que ser amado, compreender que ser compreendido. Levar a luz às trevas, a esperança ao desespero. Ser capaz de viver a realidade e não a ilusão, e ser capaz de manifestar, na ilusão, a realidade. Coisas tão simples quando escritas e tão incrivelmente difíceis na realidade.


“Pois é morrendo que se vive...”, porque, ao chegar lá embaixo, ou nos limites dessa situação, com freqüência surge uma oportunidade maravilhosa, algo que, dado um mínimo de percepção, nos iça de volta ao limiar da consciência e nos permite retornar à vida. Perdidos, pois precisamos ser encontrados.


Assim é que Lost é um apelo, um chamado de e para o homem moderno. Não é para os que já sabem se sustentar e viver de si mesmos: os personagens são tontos da cidade moderna que mal sabem o que fazer no mato: um médico que não consegue reconhecer nas plantas à sua volta as substâncias de que a medicina depende; um construtor que encontra uma paisagem nua, mas não quer construir nela, quer voltar para a “civilização”, onde tudo já parece estar construído. Não há um padre, não sabem sequer fazer um ritual fúnebre, o que equivale a dizer que não têm respeito suficiente pelos mortos, e isso também que nossa sociedade perdeu a ligação com seu próprio passado.


Há em Lost dois homens que sabem fazer muitas coisas: um era paralítico na sociedade moderna; vivia amarrado a uma cadeira de rodas, enganado pelo próprio pai e pela própria mãe7, trabalhando em uma fábrica de caixas de papel, sonhando em ser um grande explorador, um caçador e um sábio, coisa que se torna ao se encontrar na ilha, um rei, com um olho em terra de cegos. O outro, um iraquiano, ex-torturador na Guarda Republicana do Iraque, aprendeu em seu ofício de guerra a refletir sobre o valor da vida e do amor; parece por vezes ter mais consideração pelo ser humano do que os “civilizados”. É dos árabes que vem de resgate a alquimia, de descoberta a álgebra, de invenção o algarismo entre outros objetos das ciências cuja perspectiva inicial foi perdida de vista pela civilização fragmentária que esqueceu o rumo e caiu, em pleno vôo, rumo a uma ilha onde é obrigatório reconhecer que não é possível viver só. Há uma mulher, coreana, que sabe cultivar plantas, e serve de elo entre o oriente e o ocidente. Seu marido, coreano também, é o único que parece saber alguma coisa sobre a pesca. Ambos representam, relutantemente, ligações entre o homem e a natureza – os ocidentais falam de ecologia, mas sua cultura é aquela que mais se distancia dela.


Tais personagens sugerem que aquilo que em nossa civilização pode dar condições de conhecimento de si mesmo está engessado. A exemplo disso o médico, que é o líder da turma toda, está constantemente envolto em questões que o fazem questionar sua própria capacidade de decidir, tanto quanto a de crer. É que a ciência também está engessando a criatividade humana, na medida em que constrói impedimentos à fé, pois toda criação parte de um ato de fé. Se o ser humano não puder ter o numinoso como elemento fundamental de sua existência, será difícil justificar qualquer de seus inventos.


Isso também faz lembrar o Egito, cuja civilização durou milhares de anos: o númeno era o elemento fundamental, central, da construção da civilização egípcia. Aliás, os grandes monumentos da história representam não o que há de cotidiano e banal no homem, mas o que está muito além da aspiração diária. São representantes das “esferas fixas” em torno das quais gira o universo, segundo Hermes Trismegistus; são também elementos a priori, não funções, mas coisas anteriores mesmo às idéias; são geradores de idéias, ideais; arquétipos, fundamentos da vida.


O apelo de Jung está mais vivo do que nunca. É preciso conferir a todos os atos da vida o fundamento psíquico, para que as coisas sejam aquilo que na verdade são, isto é, representantes do ser e facilitadores do devir.


E pareceu-me, enfim, que estas estão entre as principais razões do sucesso “fenomênico” de Lost: é que por trás do fenômeno está o númeno, e este impulsiona àquele, sem o qual o fenômeno, destituído de alma, torna-se, no máximo, simples “coincidência”. Em Lost a princípio parece não haver númeno entre os sobreviventes do vôo que caiu, mas há a floresta, a ilha, o oceano, os perigos, e todos paulatinamente se revelam interrelacionados, além do presente, com o passado dos sobreviventes e seus destinos. Pois parece ser preciso destacar para o ser humano uma situação que lhe ofereça um deslocamento em relação ao seu cotidiano para que possa perceber, nas entrelinhas, o que também está presente no cotidiano, mas que é tão invisível, porque estamos perceptivamente embotados em relação a nossa vida diária, e esse embotamento é tão endêmico, tão subjacente a esta nossa sociedade, que o “mal do século” – segundo se dizia no início do ano 2000 em relação à depressão – não foi resolvido, nem sequer foi conhecido como elemento necessário à transformação social.

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1 Numa de conversa de bar em Sidney, o pai de um dos protagonistas – o médico Jack – conversa com outros dos protagonistas, Sawyer, sobre a bebida e a Austrália, em um flashback da passagem de Sawyer pela Autrália.


2 São três filmes: O Cubo, o Cubo Dois e o Cubo Zero, que cronologicamente se situa antes do “Cubo”, mas foi o último a ser produzido.


3 Muita gente considera obra do acaso o fato de que estamos, uns sete bilhões de habitantes humanos e outros tantos seres vivos, neste mesmo planeta, com tantos lugares no universo para se estar!


4 Assim como é um dos graus da percepção da realidade.


5 Ser são, aliás, não significa que aquilo que percebemos é aquilo que é – longe disso.


6 Aliás, em termos psíquicos isso é possível, ou não teríamos formulado a hipótese. Se pode ser escrito, é porque pode ser imaginado. Muitas coisas podem ocorrer no campo da psique, embora nunca se manifestem, sabem isso pelo menos os junguianos. Daí que a realidade psíquica é tão mais abrangente que a física, porque a última é manifesta, mas a primeira está no campo da criação das coisas.


7 Num dos episódios, já adulto, após anos de vida como órfão, é enganado por sua mãe e pai de modo a doar um dos rins para o pai; em seguida é posto de lado. No entanto, na ilha é o maior portador da fé. Acredita num aspecto transcendental da vida que o reabilitou.

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Daniel Wood

http://www.ijrs.org.br/artigos.php?id=75


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O poder espiritualizador da música

"A harmonia (expressa pela música) coloca a alma sob o poder de um sentimento que a desmaterializa", explica o espírito de Rossini a Allan Kardec"



"Visto que nos encontramos neste estado degradado de imperfeição moral, será melhor sermos práticos, harmonizarmos nossa música e, pelo mesmo processo, começarmos a compor uma nova e melhor forma de arte. Uma arte de acentuada sublimidade poderá, por si só, levar-nos de volta aos céus." — Bach

"Sinto-me obrigado a deixar transbordar de todos os lados as ondas de harmonia provenientes do foco da inspiração. Procuro acompanhá-las e delas me apodero apaixonadamente; de novo me escapam e desaparecem entre a multidão de distrações que me cercam. Daí a pouco, torno a apreender com ardor a inspiração; arrebatado, vou multiplicando todas as modulações, e venho por fim a me apropriar do primeiro pensamento musical. Tenho necessidade de viver só comigo mesmo. Sinto que Deus e os anjos estão mais próximos de mim, na minha arte, do que os outros. Entro em comunhão com eles, e sem temor. A música é o único acesso espiritual nas esferas superiores da inteligência." — Beethoven

O presente estudo pretende refletir sobre a influência que a música, assim como as artes em geral, exerce sobre o comportamento espiritual do ser humano.


A música e sua origem divina

De acordo com escrituras e mitologias de todos os povos a música, assim como as demais expressões da arte, foram trazidas aos homens pelos deuses. Na remota antiguidade, a música era empregada com a sagrada finalidade de reverenciar o Ser Supremo. Sua finalidade era a de expressar as cosmogonias, elevar a alma humana às alturas das esferas espirituais. Todas as expressões artísticas desenvolveram-se á luz dos ritos iniciáticos, com a finalidade de expandir a consciência dos inciados durante as cerimônias sagradas, abrindo-lhes a captação psíquica para experiências transcendentes.

Com o tempo a arte saiu do âmbito dos templos e do sagrado, vulgarizou-se, caiu na banalização das massas, passando a refletir seus instintos inferiorizados, anseios embrutecidos e a desmesurada ambição pelo lucro e a fama.


O poder oculto da música

Atualmente a ciência, sobretudo no campo da medicina e da psicologia, vêm redescobrindo verdades e conhecimentos que os antigos sábios detinham sobre o poder oculto da música.

Hoje sabemos que basta estarmos no campo audível da música para que sua influência atue constantemente sobre nós, acelerando ou retardando, regulando ou desregulando as batidas do coração; relaxando ou irritando os nervos; influindo na pressão sanguínea, na digestão e no ritmo da respiração, exercendo alterações sobre os processos puramente intelectuais e mentais.

Modernos pesquisadores estão começando a descobrir que a música influi no caráter do indivíduo e, ao influir em seu caráter, significa alterar o átomo ou unidade básica — a pessoa — com a qual se constrói toda a sociedade.

Os grandes sábios da China antiga até o Egito, desde a Índia até a idade áurea da Grécia acreditavam que há algo imensamente fundamental na música que lhe dá o poder de fazer evoluir ou degradar completamente a alma do indivíduo e, desse modo, fazer ou desfazer civilizações inteiras.

Assim, "uma inovação no estilo musical tem sido invariavelmente seguida de uma inovação na política e na moral", conclui um estudioso moderno.


O Messias de Handel

A influência da música sobre o nosso comportamento é algo que desperta cada vez mais o interesse dos estudiosos. Ela pode influenciar no comportamento de toda uma nação, como por exemplo ocorreu com o rei George III, na Abadia de Westminster, durante uma apresentação de Handel. A certa altura da apresentação da obra o Messias (o coro da Aleluia) (clique e ouça) o rei se pôs em pé, sinal para que todo o público se levantasse. Ele estava chorando. Nada jamais o comovera tão vigorosamente. Dir-se-ia um grande ato de assentimento nacional às verdades fundamentais da religião.

Os diferentes tipos de música levam-nos a manifestar comportamento mentais-emocionais específicos. Em certas circunstâncias, somos induzidos a alterar procedimentos em função dos diferentes estados de consciências que a música, involuntariamente, pode nos levar a alcançar. Assim, sob sua influência, podemos tomar a decisão impulsiva e decisiva para iniciar ou terminar um determinado relacionamento amoroso, ou ainda, quem sabe, aumentar ou diminuir a velocidade de nosso carro num lugar inapropriado.


Rossini fala a Kardec sobre a música espírita

Em contatos com Allan Kardec, nas reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o espírito do músico e compositor clássico Gioachino Rossini, por solicitação do codificador, falou sobre alguns aspectos espirituais da música e sua influência no comportamento espiritual do homem.

Rossini fora um músico extremamente bem sucedido, tendo recebido do rei de França os cargos de Primeiro Compositor do Rei e Inspetor Geral de Canto, recebendo um salário invejável. Esbanjou talento — foi contratado exclusivo do Teatro de Milão durante vinte anos, autor de 30 óperas, reconhecido como a "personalidade mais brilhante que jamais dourou as páginas do livro musical do mundo contemporâneo".

Mas, no além, diante da solicitação de Allan Kardec, ele se julga incapacitado para discorrer a respeito da finalidade transcendente da música, prometendo estudar o assunto, lá, nos domínios espirituais para, numa outra oportunidade, voltar a falar aos membros da Sociedade.

Lembra Rossini ao codificador do espiritismo que a embriaguez do êxito, a complacência dos amigos e as lisonjas dos cortejadores muitas vezes lhe tiraram o meio de reconhecer suas fraquezas morais, turvando-lhe o discernimento sobre a sublime finalidade da arte musical.

Numa posterior comunicação ele volta para expor suas novas idéias. Começa redefinindo o conceito de harmonia, comparando-a com a luz. Assim ele se expressa: "Fora do mundo material, isto é, fora das causas tangíveis, a luz e a harmonia são de essência divina. A posse de uma e outra está na razão dos esforços empregados para adquiri-las, elas que são duas sublimes alegrias da alma, filhas de Deus e, portanto, irmãs", querendo dizer com isso que um refinado executante ou ouvinte de música, do ponto de vista espiritual, é alguém que conquistou algo de luz e harmonia em si mesmo.


A harmonia é um sentido íntimo da alma

O espírito de Rossini inicia sua mensagem propondo um novo conceito sobre a expressão HARMONIA, comparando-a com a luz. Para ele, ambas são uma espécie de sentidos íntimos da alma, estados transcendentes do ser. Explica que a alma é apta a perceber a harmonia, mesmo sem o auxílio de qualquer instrumentação, como é apta a perceber a luz sem o concurso das combinações materiais.

"Quanto mais desenvolvidos são esses sentidos íntimos da alma, tanto melhor percebe ela a luz e a própria harmonia", ensina.


As diferentes harmonias do espaço

O espírito do grande maestro se diz espantado ao contemplar as diferentes harmonias do espaço. Diz serem constituídas por inúmeros e diferentes graus, conhecidos e desconhecidos, dispersos e ocultos no éter infinito. Essas diferentes harmonias, percebidas separadamente, constituem a harmonia particular de cada grau.


A boa música transporta a alma às elevadas esferas do mundo moral

Explica que nos graus inferiores, essas harmonias são elementares e grosseiras. Nos graus superiores, levam ao êxtase. Revela que "quando é dado ao espírito inferior deleitar-se com os encantos das harmonias superiores, o êxtase o arrebata e a prece lhe penetra o íntimo". Informa que a música é um tipo de "encantamento que o transporta às elevadas esferas do mundo moral". Imerso nas vibrações de uma música superior, o espírito então "entra a viver uma vida superior à sua e assim deseja continuar a viver para sempre". Contudo, cessada a harmonia que o penetra, "ele desperta para a realidade da sua situação e, dos lamentos que lhe escapam por haver descido, nasce-lhe o desejo de adquirir forças para de novo elevar-se — e aí tem ele um grande motivo de emulação".

Concluímos, portanto, que a música superior contribui para a elevação espiritual do ouvinte — ou do executante — quando dela sabe-se tirar bom proveito.


O espírito do músico atua sobre o fluido universal (ou energia cósmica) através de seu sentimento

O maestro Rossini ressalta que o espírito produz os sons que é capaz de saber e não consegue querer o que não sabe. "Assim, aquele que compreende muito, que tem em si a harmonia, que se acha dela saturado, que goza do seu sentido íntimo, desse nada impalpável, dessa abstração que é a concepção da harmonia, atua quando quer sobre o fluido universal que, instrumento fiel, reproduz o que ele concebe e deseja. O éter vibra sob a ação da vontade do espírito. A harmonia que o espírito traz em si concretiza-se, por assim dizer, evola-se, doce e suave, como o perfume da violeta, ou ruge como a tempestade, ou estala como o raio, ou solta queixumes como a brisa. É rápida como o relâmpago, ou lenta como a neblina; tem os despedaçamentos de um soluço, ou é contínua como a relva; é precipitada qual catarata, ou calma como um lago; murmura como um regato, ou ronca como uma torrente. Ora apresenta a rudeza agreste das montanhas, ora a frescura de um oásis; é alternativamente triste e melancólica como a noite, leda e jovial como o dia; caprichosa como a criança, consoladora como uma paixão, límpida como o amor e grandiosa como a Natureza. Quando chega a este último terreno, confunde-se com a prece, glorifica a Deus e leva ao arroubamento aquele mesmo que a produz, ou a concebe", esclarece poeticamente o maestro.


Pela música, o espírito faz ressoar no éter a harmonia que traz em si

Rossini explica que o sentimento da harmonia é como o espírito que tem a riqueza intelectual: um e outro possuem constantemente da propriedade inalienável que conquistaram pelo esforço esforço.

"Pela música, o espírito faz ressoar no éter a harmonia que traz em si", define o maestro.

Assim como o espírito inteligente, que ensina a sua ciência aos que ignoram, experimenta a ventura de ensinar, porque sabe que torna felizes aqueles a quem instrui, também o espírito que faz ressoar no éter os acordes da harmonia que traz em si experimenta a felicidade de ver satisfeitos os que o escutam.

Para ele, "a harmonia, a ciência e a virtude são as três grande concepções do espírito: a primeira o arrebata, a segunda o esclarece, a terceira o eleva. Possuídas em toda a plenitude, elas se confundem e constituem a pureza".


A música é o médium da harmonia

Explica o maestro que "o compositor que concebe a harmonia a traduz na grosseira linguagem chamada música, concretiza a sua idéia e a escreve e, embora desvirtuada pelos agentes da instrumentação e da percepção, a música sempre causa impressões nos que a ouvem traduzida. Essas sensações são a harmonia. A música as produz. As sensações são efeito da música. Esta é posta a serviço do sentimento para ocasionar a sensação. O sentimento, na composição, é a harmonia; a sensação. No ouvinte, é também a harmonia, com a diferença de que é concebida por um e recebida pelo outro. A música é o médium da harmonia. Ela a recebe e a dá, como o refletor é o médium da luz, como tu és o médium dos espíritos. É concebida pela alma e transmitida à alma".


A música espiritualizada é essencialmente moralizadora

Extraordinária diferença há na concepção e apreciação da música entre homens e espíritos: enquanto na terra tudo é grosseiro, os espíritos, contudo, possuem a percepção direta.

"É possível expor os fatos que os sentimentos íntimos provocam, defini-los, descrevê-los, mas, os sentimentos, esses se conservam inexplicados. A música pode provocar sentimentos diferentes em cada pessoa porque as mesmas causas geram efeitos contrários. Em física isto não existe, mas em metafísica existe. Existe, porque o sentimento é propriedade da alma e as almas diferem de sensibilidade entre si, de impressionabilidade, de liberdade. A música, que é a causa segunda da harmonia percebida, penetra e transporta a um, deixando frio e indiferente a outro. É que o primeiro se acha em estado de receber a impressão que a harmonia produz, ao passo que o segundo se acha em estado oposto: ele ouve o ar que vibra, mas não compreende a idéia que lhe traz. Este chega a entediar-se e a adormecer, enquanto que aquele outro se entusiasma e chora. Evidentemente, o homem que goza as delícias da harmonia é muito mais elevado, mais depurado, do que aquele em quem ela não logra penetrar. Sua alma, mais apta a sentir, desprende-se mais facilmente e a harmonia lhe auxilia o desprendimento, transporta-a e lhe permite ver melhor o mundo moral. Deve-se concluir daí que a música é essencialmente moralizadora, uma vez que traz a harmonia às almas e que a harmonia as eleva e engrandece".


A música exerce influência sobre a alma e seu progresso

O grande músico traz a Allan Kardec um interessante conceito sobre o poder espiritualizador da música: "A harmonia (expressa pela música) coloca a alma sob o poder de um sentimento que a desmaterializa". Isto sifnifica que a harmonia, expressa pela boa música, acelera nossas vibrações, permitindo-nos sentimentos de acesso espiritual a dimensões que não conseguimos alcançar comumente.

"Este sentimento existe em certo grau, mas desenvolve-se sob a ação de um sentimento similar mais elevado. Aquele que esteja desprovido de tal sentimento é conduzido gradativamente a adquiri-lo, acaba deixando-se penetrar por ele e arrastar ao mundo ideal, onde esquece, por instantes, os prazeres inferiores que prefere à divina harmonia".

Podemos refletir aqui o poder e a responsabilidade que possui um artista espiritualizado e consciente, pois que lhe é dado arrebatar, pela emoção superior, as almas dos homens às alturas das esferas transcendentes, assim como ele próprio pela mesma música é arrebatado.


A música reflete a alma do compositor

Rossini lembra que se considerarmos que a harmonia sai do concerto do espírito, podemos deduzir que a música exerce salutar influência sobre a alma (que é, em verdade, o espírito encarnado) e a alma que a concebe também exerce influência sobre a música. Há uma simbiose entre o artista e sua obra, uma vez que eles se confundem no resultado final. "A alma virtuosa, que nutre a paixão do bem, do belo, do grandioso e que adquiriu harmonia, produzirá obras-primas capazes de penetrar as mais endurecidas almas e de comovê-las. Se o compositor é terra-a-terra, como poderá exprimir a virtude de que desdenha, o belo que ignora e o grandioso que não compreende? Suas composições refletirão seus gostos sensuais, sua leviandade, sua negligência. Serão, ora licenciosas, ora obscenas, ora cômicas, ora burlescas, comunicando aos ouvintes os sentimentos que exprimem e os perverterão, em vez de melhorá-los".

Essa dissertação nos faz meditar que é melhor termos mais cuidado com o nosso cardápio musical, muitas vezes digerido, involuntariamente, por coação dos meios de comunicação alienadores. É bom perguntar: em que tipo de música andamos refletindo os nossos gostos íntimos?


A educação espiritual aprimorará o gosto das pessoas pela música

Rossini esclarece que o Espiritismo, ao moralizar os homens, exercerá uma grande influência sobre a música. Produzirá mais compositores virtuosos, que transfundirão suas virtudes ao fazerem ouvidas suas composições. "Rir-se-á menos; chorar-se-á mais; a hilaridade cederá lugar à emoção, a fealdade à beleza e o cômico à grandiosidade".

Por outro lado, "os ouvintes que o espiritismo dispuser a receber facilmente a harmonia se elvarão, ouvindo a música séria, de verdadeiro encanto; desprezarão a música frívola e licenciosa, que seduz as massas".

Sobre a sublimação da arte musical, o autor ainda revela a Allan Kardec: "Quando o grotesco e o obsceno forem varridos pelo belo e pelo bem, desaparecerão os compositores daquela ordem, porquanto, sem ouvintes, nada ganharão, e é para ganhar que eles se emporcalham".


O espiritismo exercerá influência sobre as artes

O espiritismo terá influência sobre a música, prossegue. "Seu advento transformará a arte, depurando-a. Sua origem é divina, sua força o levará a toda parte onde haja homens para amar, para elevar-se e para compreender. Ele se tornará o ideal e o objetivo dos artistas. Pintores, escultores, compositores, poetas irão buscar nele suas inspirações e ele lhas fornecerá, porque é rico, é inesgotável".

E sobre si mesmo, faz uma interessante revelação: "O espírito do maestro Rossini voltará, numa nova existência, a continuar a arte que ele considera a primeira de todas. O espiritismo será seu símbolo e o inspirador de suas composições".

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FONTE:
CENTRO DE ESTUDOS ESPÍRITAS PAULO APÓSTOLO DE MIRASSOL – CEEPA
Estudo elaborado sobre comunicações do espírito do maestro e compositor Gioachino Rossini, ocorridas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo tema é "Música Espírita", contido no livro Obras Póstumas, de Allan Kardec.
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foto: Imagens Google
E.T.: Escolhi a imagem de um sax apenas por pura preferência. - Andy

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

PSICOSFERA, NOSSO MEIO AMBIENTE ESPIRITUAL

PSICOSFERA, NOSSO MEIO AMBIENTE ESPIRITUAL

Nubor Orlando Facure

Observar e perceber o mundo que nos cerca tem nuanças de complexidade infinita.

O mesmo objeto, uma mesma pessoa ou um mesmo cenário podem despertar interpretaçes completamente diferentes conforme o sentimento de quem observa.

O mesmo mundo e que vivemos seria outro se aqui só vivessem sonhadores, místicos, poetas ou santos.

Em termos neuropsicológicos já sabemos que o nosso cérebro faz reconhecimento do mundo que nos cerca sonhando uma idéia a partir do que vai percebendo. Daí a possibilidade do que for feio para um ser bonito para o outro.

Cada objeto que vemos desperta em nós lembranças e vivências que são associadas compondo nosso julgamento sobre este objeto.

Por isto, cada um de nós sonha o mundo conforme suas experiências psíquicas.

Podemos dizer que no dia a dia, ao observarmos a realidade que nos cerca, estamos compondo em torno de nós um cenário mental com formas e figuras que nos acompanham.

O mais importante é que este cenário psíquico é quem direciona nossos comportamentos.

Nós sempre reagimos de conformidade com a interpretação que damos às coisas e às pessoas e, como vimos, nossas interpretações são na verdade julgamentos que o cérebro constrói com representações, com idéias que têm forma e movimento.

Considerando todas as mentes humanas capazes de pensar e criar, podemos deduzir que estamos mergulhados num mundo psíquico de proporções gigantescas e, seguramente interferindo uns sobre os outros, induzindo-nos a comportamentos coletivos massificantes.

Quando toda uma população vê uma notícia pela televisão ou lê a mesma noticia nos jornais, estas pessoas estão criando representações mentais com referência a estas notícias reconstruindo e revivendo os cenários e as personagens envolvidas ou citadas nos noticiários. é como se o mesmo acontecimento se reproduzisse em cada mente que se liga ao episódio noticiado.

Nossa grande questão é saber se este cenário mental com formas e personagens assim criados, tem alguma realidade física semelhante ao que estamos inseridos no mundo material.

Na interpretação da física de hoje, o mundo de moléculas e átomos foi substituído por campos de energia. O comportamento aparentemente estável da matéria física foi substituído por ondas e pacotes de energia que se alternam na dependência da opinião do observador.

Portanto, a matéria se densifica em partículas ou se esvai em onda conforme o julgamento mental de quem participa do experimento. Em termos de matéria física, o ser e o desvanecer depende da mente de quem observa o experimento.

A única coisa palpável que restou deste mundo físico de aparência estável uma espuma quântica onde a matéria e a energia se relacionam.

Pelo menos em termos teóricos podemos pressupor outros estados de matéria como, por exemplo, a matéria radiante sensível aos influxos da mente. A força mental que se expressa em pensamentos cria onda e partículas que também se coagulam concretizando as formas dos objetos e das pessoas em quem pensamos.

Enquanto a espuma quântica solidifica o mundo físico em que nos movimentamos, a matéria radiante corporifica o mundo mental que idealizamos. Assim como falamos em higiene e poluição do ambiente físico, podemos falar e, agora sim, falar concretamente em limpeza e poluição psíquica.

Estamos todos mergulhados num mundo psíquico mais concreto do que possamos supor e, neste ambiente, a seleção das idéias facilitar um clima mental mais saudável ou mais poluído.

Uma simples notícia de jornal, uma conversa que nos emociona, um filme a que assistimos ou um episódio que relatamos criam junto de nós um ambiente psíquico que chamamos de psicosfera. Somos caixeiros ambulantes de idéias que podem facilmente nos identificar aos videntes deste mundo psíquico.

Estas formas-pensamentos um dia farão de etiologia das doenças, principalmente psicossomáticas, e o médico aprenderá a prescrever a prece e a meditação para equilbbrio da nossa psicosfera.

Cada um de nós terá uma responsabilidade individual para construir seu próprio mundo mental selecionando o que fala, o que vê, o que ouve, o que lê porque tudo isto implica em incorporar para sempre matéria mental em nosso psiquismo.
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Dr. Nubor Orlando Facure, é médico, especialista em neurologia, diretor do Instituto do Cérebro de Campinas, e ex-professor titular de neurocirurgia da UNICAMP, pesquisador e escritor espírita.

fonte: http://www.geocities.com/nubor_facure/
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imagem: Google Imagens
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Eu mesma vivo reforçando isso para meus familiares, meus amigos, meus contatos de e-mails, mas é tão difícil as pessoas entenderem que se entorpecem e "nos" envolvem nas suas eternas ondas de pensamentos revoltosos, pessimistas, indignados, sofredores, etc, etc, etc....
Não compreendem a importância de "deletarem" tudo que não for positivo e elevado....
Não comrpeendem que se afundam cada vez mais nas vibrações pestilentas dos pensamentos negativos.... sejam eles advindos através da mídia televisiva, da literatura, das músicas, enfim... dos assuntos recheados de "massa deletéria", carrregando seus ambientes e os ambientes de quem "às ouvem... à lêm" sempre que "compactuam" com os velhos maus hábitos do sensacionalismo pessimista!!
É preciso acordarmos para os alertas massivos que os grandes Mestres e a espiritualidade amorosa e incansávelmente nos fazem desde sempre!!

"Somos o que pensamos!!"

Andy