domingo, 30 de março de 2008

Doenças Espirituais



O Objetivo Espírita

O Espiritismo é uma doutrina que introduz ao nível do conhecimento médico um vastíssimo campo de estudo ampliando diagnósticos e introduzindo uma nova compreensão para justificar a razão do sofrimento que a doença nos traz.

Entretanto, o Espiritismo não veio para competir com qualquer especialidade médica e sua principal atuação não é a de produzir curas. Com muita freqüência, seus adeptos, o utilizam com esses propósitos, sugerindo na sua busca, o consolo e a cura das doenças. Seu papel, primordial, é o de iluminar e esclarecer, para que cada criatura promova por si próprio, sua reeducação espiritual. Sem reforma íntima não vai ocorrer progresso nem cura. Neste sentido, as doenças são compreendidas como lições com grande potencial de transformação e trazem oportunidades de renovação e crescimento espiritual.

Uma Anamnese Voltada para a Espiritualidade

A maioria dos nossos pacientes aceita muito bem um diálogo com o médico sobre sua espiritualidade. De maneira geral nosso povo, por crendice ou sabedoria mesmo, reconhece que muitas doenças tem alguma coisa a ver com a espiritualidade, ou como causa, ou como processo benéfico para sua cura. Podemos explorar o interrogatório médico de tal modo que o paciente perceba que, falar sobre a espiritualidade não implica em se comprometer com uma religião e que uma e outra podem ser perfeitamente separadas.

Método de Avaliação.

Aprendemos a adotar um critério arbitrário em que a espiritualidade do paciente é avaliada em três domínios (1) :

O Domínio da crença : aqui, o paciente revela suas crenças ou não, na existência de Deus, na existência e imortalidade da Alma, no mundo invisível onde habitam os espíritos, na possibilidade de sua comunicação com o seu Deus, na reencarnação, na comunicação dos espíritos conosco.

Esta relação com a espiritualidade que os pacientes costumam se referir é, quase sempre, muito específica e individual sendo, as vezes, muito difícil de serem expressas em palavras, já que está ligada a uma crença que é intransferível, sagrada para cada um que a aceita e implica, como exigência máxima, o respeito que cada um espera ter para sua convicção própria.

O Domínio da prática : refere-se ao comportamento que cada um desenvolve em relação as suas crenças ou a religião que diz adotar. Assim, identificaremos os freqüentadores ocasionais e os assíduos, os participantes e os indiferentes, os curiosos e os inquiridores, todos eles com maior ou menor empenho em por em prática o que ouve das lições que sua religião se dispões a ensinar.

O Domínio da experiência transcendente: é a participação, freqüentemente “traumática”, episódica, ocasional ou persistente e controlada que certas pessoas desfrutam com a espiritualidade. Temos os exemplos de pessoas que são surpreendidas pela visão de uma entidade espiritual, coisa que possa ter-lhe acontecido apenas uma vez na vida ,mas, que lhe marcou profundamente. Outros, num momento de forte stress, como um acidente de automóvel ou a queda de avião, em que são os únicos sobrevivente, se sentiram, a partir daí, tocados por uma atuação privilegiada das divindades que o protegem. Estão neste grupo, também, aqueles casos de relatos das experiências fora do corpo, que traduzem um desdobramento do corpo espiritual, com um deslocamento mais ou menos demorado pelo mundo espiritual. Nestes casos, pode ou não haver consciência de contatos com entidades que os amparam nestes deslocamentos “fora do corpo”. Entre tantos outros exemplos, precisa ser destacada, também, com ênfase, toda a fenomenologia mediúnica que a doutrina espírita tem o privilégio de esclarecer em seus pormenores, revelando os insondáveis caminhos da mediunidade cujos canais de comunicação nos põe em contato com a espiritualidade. Na experiência transcendente da mediunidade, a disciplina moral exerce um papel produtivo no grau de elevação espiritual do fenômeno

A Fsiopatogenia

A possibilidade de existir uma doença espiritual só pode ser aceita com a crença em um novo paradigma que a doutrina espírita introduz em seus fundamentos (2) .

O Espiritismo ensina que Deus é a “Inteligência Suprema do Universo” e tudo que existe faz parte da sua criação.

Cada um de nós é um espírito encarnado que está em processo de aprendizado que, necessariamente, vai nos levar a perfeição. depois de um número inimaginável de reencarnações, neste, e em outros mundos onde também existe a vida.

Quando o corpo perece, a Alma que o anima passa a viver no mundo espiritual onde estão todos dos outros espíritos que nos precederam. Este mundo espiritual está em estreita ligação com o mundo material que habitamos e os Espíritos que aí vivem exercem constantemente uma forte interferência em nossas vidas.

Além do corpo físico, cada um de nós se serve de outro corpo de natureza intermediária entre a nossa realidade física e o mundo espiritual. Este corpo espiritual ou perispírito é consolidado pelo “fluido cósmico” disponível em cada um dos mundos habitados.

O pensamento é força criadora proveniente do Espírito que o impulsiona. Mesmo conhecendo muito pouco de suas propriedades, sabemos que a energia mental que o pensamento exterioriza, exerce total influência no corpo espiritual, modificando sua forma, sua aparência e sua consistência. É por isto que, Allan Kardec, afirmou que, situa-se no perispírito a verdadeira causa de muitas doenças e a Medicina teria muito a ganhar quando compreendesse melhor sua natureza (3) .

Cada um de nós vive em sintonia com o ambiente espiritual que suas atitudes e seus desejos constróem para si próprio.

Diagnóstico da Doença ou Manifestação Espiritual

A mim parece que temos no meio espírita dois vícios de interpretação das manifestações da espiritualidade. Quase sempre, aquele que busca no centro espírita uma orientação diante seus problemas, vai ouvir que seu caso é de “obsessão” ou no mínimo de “mediunidade” e que ele “precisa se desenvolver”.

É preciso reconhecer que, enquanto criaturas humanas que somos, percorrendo mais uma encarnação no planeta, pertencemos a um vastíssimo grupo de espíritos que, sem exceção, ainda está muito endividado e comprometido com seus resgates para imaginarmos que algum de nós possa se aventurar a dizer que não tem qualquer problema espiritual. No meio médico os alemães costumam dizer que “só tem saúde aquele que ainda não foi examinado”. Do ponto de vista espiritual uma afirmação deste tipo, longe de ser um exagero da exigência minuciosa dos germânicos, é uma verdade que só aquele que não se deteve em examinar sua consciência pode contestar.

Classificação:

Considerando a fisiopatogenia das doenças espirituais costumamos adotar o seguinte conjunto de diagnósticos (4) :

1 - Doenças espirituais auto-induzidas :

Desequilíbrio vibratório

auto-obsessão

2 - Doenças espirituais compartilhadas :

Vampirismo

Obsessão

3 - Mediunismo

4 - Doenças cármicas

Desequilíbrio Vibratório

O perispírito é um corpo intermediário que permite ao espírito encarnado exercer suas ações sobre o corpo físico. Sua ligação é feita célula a célula atingindo a mais profunda intimidade dos átomos que constitui a matéria orgânica do corpo físico. Esta ligação se processa as custas das vibrações que cada um dos dois corpos, o físico e o espiritual possuem (5) . Compreende-se então que este “ajuste” exige uma determinada sintonia vibratória. O perispírito não é prisioneiro das dimensões físicas do corpo de carne e pode manifestar suas ações alem dos limites do corpo físico pela projeção dos seus fluidos. A sintonia e a irradiação do perispírito são dependentes unicamente das projeções mentais que o espírito elabora. Assim, a aparência e a relação entre o corpo físico e o corpo espiritual são dependentes exclusivamente do fluxo de idéias que construímos.

Devemos reconhecer que, de maneira geral, o ser humano ainda perde muito dos seus dias comprometido com a crítica aos semelhantes, o ódio, a maledicência, as exigências descabidas, a ociosidade, a cólera e o azedume entre tantas outras reclamações levianas contra a vida e contra todos. O orai e vigiai ainda está distante da nossa rotina e a tentação de enumerar os defeitos do próximo ainda é muito grande.

São estes os motivos que desajustam a sintonia entre o corpo físico e o perispírito. É esta desarmonia que desencadeia as costumeiras sensações de mal estar, de “estafa” desproporcional, a fadiga sistemática, a dispnéia suspirosa onde o ar parece sempre faltar, os músculos que doem e parecem não agüentar o corpo (6) . A enxaqueca que o médico não consegue eliminar, a digestão que nunca se acomoda e tantas outras manifestações tidas a conta de “doenças psicossomáticas”. São tantos a procurarem os médicos, mas muito poucos a se dedicarem a uma reflexão sobre os prejuízos de suas mesquinhas atitudes.

A Auto-obsessão

O pensamento é energia que constroi imagens que se consolidam em torno de nós desenhando um “campo de representações” de nossas idéias. A custa dos elementos absorvidos do “fluido cósmico universal”, as idéias tomam formas, sustentadas pela intensidade com que pensamos no que esta idéia propõe. A matéria mental (7) constrói em torno de nós uma “atmosfera psíquica” (psicosfera) onde estão representados os nossos desejos. Neste cenário estão os personagens que nos aprisionam o pensamento pelo amor ou pelo ódio, pela inveja ou pela cobiça, pela indiferença ou pela proteção que projetamos para os que queremos bem.

Da mesma forma, os medos, as angústias, as mágoas não resolvidas, as idéias fixas, o desejo de vingança, as opiniões cristalizadas, os objetos de sedução, o poder ou os títulos cobiçados, também se estruturam em “idéias-formas” . A partir daí seremos prisioneiros do próprio medo, dos fantasmas da nossa angústia, das imagens dos nossos adversários, da falsa ilusão dos prazeres terrenos ou do brilho ilusório das vaidades humanas.

A matéria mental produz a “imagem” ilusória que nos escraviza. Por capricho nosso, somos “obsidiados” pelos próprios desejos.

As Doenças Espirituais Compartilhadas

Incluímos aqui o vampirismo e a obsessão. Dizemos compartilhada porque, são produzidas pela associação perturbadora de um espírito desencarnado e sua vítima, estando ambos sofrendo de um mesmo processo psicopatológico. A participação como vítima ou réu, freqüentemente se alterna entre eles.

Vampirismo (8)

O mundo espiritual é povoado por uma população numerosíssima de espíritos que segundo informes deve ser 4 a 5 vezes maior que os 6 bilhões de Almas encarnadas em nosso planeta. Como a maior parte desta população de espíritos, deve estar habitando as proximidades dos ambientes terrestres onde flui toda vida humana, não é de estranhar que, estes espíritos, estejam compartilhando conosco todas as boas e más condutas do nosso cotidiano (9) .

Contamos com eles como guias e protetores que constantemente nos inspiram, mas, na maioria das vezes, nós os atraímos pelos vícios e eles nos aprisionam pelo prazer.

Contam-se aos milhões os homens envolvidos com o álcool, o cigarro, as drogas ilícitas, os soporíferos, os desregramentos alimentares e os abusos sexuais.

Para todas estas situações as portas da invigilância estão escancaradas permitindo o acesso de entidades desencarnadas que passam a compartilhar conosco o elixir das satisfações mundanas da carne.

Nestes desvios da conduta humana a mente do responsável agrega em torno de si elementos fluídicos que aos poucos vão construindo “miasmas psíquicos” com extrema capacidade corrosiva do organismo que a hospeda. O alcoolista, o drogado ou o viciado de qualquer substância constrói para si mesmo os germens que passam a lhes obstruir os funcionamentos das células hepáticas, dos glomélulos renais, dos alvéolos pulmonares, dos dúctos prostáticos, cronificando lesões que a medicina tem a conta de processos incuráveis.

As entidades espirituais viciadas compartilham os prazeres do vício que o encarnado lhes favorece e ao seu tempo o estimula a permanecer no vício. Nesta associação há uma tremenda perda de energia por parte do responsável pelo vício, daí, a expressão, vampirismo, ser muito adequada para definir esta parceria.

Obsessão

No decurso de cada encarnação a misericórdia de Deus nos permite usufruir das oportunidades que melhor nos convém para estimular nosso progresso espiritual. Os reencontros ou desencontros são de certa maneira planejados ou atraídos por nós para os devidos resgates de compromissos que deixamos para traz ou as facilidades aparecem para cumprimos as grandes promessas que desenhamos no plano espiritual.

É assim que, pais e filhos, se reencontram como irmãos, como amigos, como parceiros de uma sociedade comum na atividade humana. Marido e mulher que se desrespeitaram, agora se reajustam como, pai e filha, chefe e subalterno ou como parentes distantes que a vida dificulta a aproximação. Mães que desprezaram os filhos, hoje passam de consultório a consultório numa peregrinação onde desfilam dificuldade para terem de novo seus próprios filho. A vida de uma maneira ou de outra vai reeducando a todos. Os obstáculos que à primeira vista parecem castigo ou punição trazem no seu emaranhado de provas a possibilidade de recuperar os danos físicos ou morais que produzimos no passado.

Com freqüência, ganhamos ou perdemos na grande luta da sobrevivência humana. Nenhum de nós percorre esta jornada sem ter que tomar decisões, sem deixar de expressar seu desejos e sem fazer suas escolhas. É aí que muitas e muitas vezes contrariamos as decisões, os desejos e as escolhas daqueles que convivem próximo de nós.

Em cada existência amontoamos pessoas que não nos compreenderam, amigos que nos abandonaram por se contrariarem com opiniões diferentes da nossa, sócios que não cumpriram seus compromissos conosco, parentes ou simples conhecidos que difamaram gratuitamente nosso nome.

Em muitas outras ocasiões do passado, já tivemos oportunidade de participar de grandes disputas financeiras, de crimes que a justiça terrena não testemunhou, de aborto clandestino que as alcovas esconderam e de traições que a sociedade repudiou e escarneceu

Nos rastros destas mazelas humanas, nós todos, sem exceção, estamos endividados e altamente comprometidos com outras criaturas, também humanas e exigentes como nós mesmos, que, agora, estão a nos cobrar outros comportamentos, a nos exigir a quitação de dívidas que nos furtamos em outras épocas e a persistirem no seu domínio procurando nos dificultar a subida mais rápida para os mais elevados estágios da espiritualidade.

Embora a ciência médica de hoje ainda não a traga em seus registros nosológicos, a obsessão espiritual, na qual uma criatura exerce seu domínio sobre a outra, este é de longe o maior dos males da patologia humana.

Nas obras básicas do Espiritismo, Allan Kardec, esclareceu que a obsessão se estabelece em três domínios de submissão crescente : a “obsessão simples”, a “fascinação” e a “subjugação”. Os textos clássicos de Kardec e toda literatura espírita subsequente, principalmente de André Luiz e seus abnegados interpretes como Marlene Rossi Severino Nobre ( A obsessão e suas máscaras) são mais do que suficientes para nos esclarecerem sobre este tema.

Mediunismo

Pretendemos, com esta denominação, discutir os quadros de manifestações sintomáticas apresentadas por aqueles que, incipientemente, inauguram suas manifestações mediúnicas (10) . Com muita freqüência, a mediunidade, para certas pessoas, se manifesta de forma tranqüila e é tida como tão natural que, o médium, quase sempre ainda muito jovem, mal se dá conta de que, o que vê, o que percebe e o que escuta, de diferente, são comunicações espirituais e que só ele está detectando estas manifestações, embora, lhes pareçam ser compartilhadas por todos.

Outras vezes, os fenômenos são apresentados de forma abundante e o principiante é tomado de medos e insegurança, principalmente, por não saberem do que se trata e costumam se retraírem, por perceberem que são diferente das pessoas com quem convivem.

Em outras ocasiões, temos a mediunidade atormentada por espíritos perturbadores e o médium, sem contar com qualquer proteção que o possa ajudar, se vê as voltas com uma série de quadros da psicopatologia humana. Freqüentemente ocorrem crises do tipo pânico, histeria ou manifestações somatiformes que se expressam em dores, paralisias, anestesias, “inchaço” dos membros, insônia rebelde, sonolência incontrolável etc.

Uma grande maioria tem pequenos sintomas psicossomáticos e se sentem influenciados ou acompanhados por entidades espirituais (11) . São médiuns com aptidões ainda muito acanhadas que estão em fase de aprendizado e domínio de suas potencialidades. Trata-se de uma tenra semente que precisa ser cultivada para se desabrochar.

Doenças Cármicas

Sempre que pelas nossas intemperanças desconsideramos os cuidados com o nosso corpo e nas vezes que por agressividade gratuita atingimos o equilíbrio físico ou psíquico do nosso próximo, estamos imprimindo estes desajustes nas células do corpo espiritual que nos serve.

É assim que, na patologia humana, ficam registrados os quadros de “lúpus” que nos compromete as artérias, do “pênfigo” que nos queima a pele, das “malformações” que deformam o coração ou o cérebro, da “esclerose múltipla” que nos imobiliza no leito ou das demência que nos compromete a lucidez e nos afasta da sociedade.

Precisamos compreender que estas e todas as outras manifestações de doença não devem serem vistas a conta de castigos ou punições.

O Espiritismo ensina que estas e todas outras dificuldades que enfrentamos, são oportunidades de resgate, as quais, com freqüência, fomos nós mesmos quem as escolhemos para acelerar nosso progresso e nos alavancar da retaguarda que as vezes nos mantém distantes daqueles que nos esperam adiante de nós.

Mais do que a cura das doenças, a medicina tibetana, há milênios atrás, ensinava que, médico e pacientes, devem buscar a oportunidade da iluminação. Os padecimentos pela dor e as limitações que as doenças trazem, nos possibilitam o esclarecimento se nos predispormos a buscá-lo. Mais importante do que aceitar o sofrimento numa resignação passiva e pouco produtiva, faz-se necessário, superar qualquer limitação ou revolta, para promovermos o crescimento espiritual, através desta descoberta interior e individual.

Tratamento da Doenças Espirituais

Corrigir os problemas espirituais implica em reeducar o espírito. Os tratamentos sintomáticos podem trazer um socorro imediato ou um alívio importante, mas, transitório.

Percorrer as casas espíritas em busca de alívio pelo passe magnético, pela água fluida magnetizada com os fluidos revitalizadores ou para desfrutar de alguns momentos de saudável harmonia com a espiritualidade, apenas repetem as buscas superficiais que a maioria das pessoas fazem em qualquer consultório medico ou recinto de cura de outras instituições religiosas que prometem curas rápidas.

Trabalhar para conhecer e tratar a doença espiritual exige uma reforma interior que demanda esforço, disciplina e dedicação.

Neste sentido o médico não está ali para controlar a doença de quem o procura, mas, deve se comprometer em desempenhar o papel de orientador seguro, com atitudes condizentes com as que propõe ao paciente.

O postulado número um neste tratamento deve ser, portanto, um código de conduta moral, que deve partir do compromisso que o médico e qualquer outro terapeuta deva assumir.

São de grande sensibilidade os conselhos de Allan Kardec:

“...Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que não merecem (12) ”.

No nosso ambiente de trabalho temos adotado conduta simples que até agora tem nos parecido de grande repercussão no tratamento:

Desde a sala de espera, criamos um ambiente onde o paciente já começa a perceber que nosso trabalho está comprometido com a espiritualidade. Sem qualquer ostentação de misticismo vulgar ou crenças supersticiosas, na sala de espera, o paciente lê um convite para participar da nossa reunião de “diálogo com o evangelho” feita no período da manhã. Entre outras mensagens, as quais ele pode retirar e levar para uma leitura mais demorada, fizemos constar a presença de um “livro de preces” onde pode ser colocado nomes e endereços para serem encaminhadas as “vibrações” nos dias da leituras do evangelho, que são sempre precedidas e encerradas com meditação e prece.

Os quadros de obsessão e outras patologias nos quais se supõe interferências mais graves de entidades espirituais, devem ser obrigatoriamente referidos para as casas espíritas, que estão preparadas adequadamente para lidarem com estes dramas.

1- Ver : Willian Miller : Integrating Spirituality into Treatment : Resource for Practioners

2- Ver : “Paradigmas Espíritas na Prática Médica” no meu livro “Muito Além dos Neurônios”.

3- Livro dos Espíritos. Alan Kardec.

4- A classificação que aqui adotamos é arbitrária. Nós a temos divulgado em várias ocasiões, sempre que falamos sobre “Doenças Espirituais”. O livro Missionários da Luz de André Luiz/Chico Xavier nos serviu de inspiração para a descrição dos quadros aqui apresentados.

5- Mecanismos da Mediunidade. André Luiz/Chico Xavier.

6- Livro dos Espíritos. Ver pergunta 471.

7- Mecanismos da Mediunidade. André Luiz/Chico Xavier

8- Este termo é sugerido por André Luiz. Ver : Missionários da Luz.

9- Livro dos Espíritos. Ver perguntas 456, 457 e 459.

10- Livro dos Médiuns. Ver : Capítulo XVIII. “Dos inconvenientes e perigos da mediunidade”.

11- Livro dos Espíritos. Ver : “Influência Oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos”. Perguntas 459 a 472.

12- Livro dos Espíritos. Pergunta 257. Ver : Texto de Alan Kardec sobre : “Ensaio Teórico das Sensações nos Espíritos”. Págs. 165 a 170.

(Artigo reproduzido do site do autor com a sua autorização)
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página: http://www.ieja.org/portugues/Estudos/Artigos/p_doencasespirituais.htm

sexta-feira, 21 de março de 2008

A medicina doente


A medicina doente

Um conjunto de distorções abala a confiança nos médicos e expõe a crise sem precedentes por que passa a medicina.

Mortes provocadas por remédios que deveriam curar, exames e cirurgias caros e desnecessários, tratamento desumano de pacientes. Um conjunto de distorções abala a confiança nos médicos e expõe a crise sem precedentes por que passa a medicina.

Flagrante do cotidiano em um consultório médico do terceiro milênio: um executivo entrega ao doutor um calhamaço de exames e logo fica sabendo que sua saúde não anda bem. O colesterol alcançou a estratosférica taxa de 800 miligramas por decilitro - mesmo no futuro, uma taxa superior a 250 miligramas indica que o sujeito vai mal -, o que faz de Roberto um candidato fortíssimo a ter um infarto fulminante. O caso exige cuidados imediatos. Mas, ao contrário do que ocorre hoje, o médico não saca a caneta para gerar uma prescrição. Limita-se a digitar em um banco de dados online a seqüência de genes das células sangüíneas do executivo e a aguardar, por alguns instantes, o trabalho de uma pequena impressora. É dali que emerge uma receita completa e específica com a indicação, entre quase 200 remédios disponíveis no mercado, daquele que melhor interage com o paciente.

É tudo tão rápido que a tradicional consulta médica dura só alguns minutos. Afinal, são máquinas inteligentes, conectadas a bancos de dados colossais, que se encarregam praticamente sozinhas do diagnóstico, levando em consideração todas as características orgânicas e genéticas do paciente, seu histórico médico, entre outros parâmetros. Transformado em simples intermediário entre o paciente e a tecnologia, ao doutor cabe apenas alimentar o sistema com dados de análises de sangue e tecidos orgânicos realizadas - adivinhe - por outros engenhos eletrônicos. É o máximo em automação e customização do atendimento, num contexto em que a prescrição de uma simples aspirina pode mobilizar e cruzar milhões de informações.

Com certeza você ainda não conhece nenhum médico que trabalhe assim, apesar da parafernália tecnológica já utilizada pela medicina moderna. Mas o quadro descrito acima deverá fazer parte da vida real nos próximos cinco anos, graças a um novo ramo da ciência que une a farmacopéia às descobertas recentes sobre o genoma humano - a farmacogenômica. O curioso é que, em vez de trazer a certeza de que, nessa cena futurista, os serviços médicos atingirão o ápice em qualidade, a promessa de mais automatismo na medicina só atiça uma polêmica emergente em todo o mundo: o modelo biomédico, sobre o qual se apóiam as rotinas atuais de clínicas e hospitais - e também a produção de medicamentos -, atende, de fato, às necessidades do homem no campo da saúde?

Eis aí um paradoxo. Enquanto a intimidade microscópica do organismo é devassada pela ciência e mais e mais recursos high-tech são incorporados aos sistemas de diagnóstico e terapia, cresce também a insatisfação das pessoas com os custos, o atendimento, e, sobretudo, com a promessa fria de eficácia dos procedimentos médicos. "Em todos os setores a sofisticação tecnológica reduziu custos e aumentou a satisfação do cliente, exceto na medicina", diz Flávio Corrêa Próspero, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida. Hoje as pessoas buscam muito mais os médicos do que no passado, gastam pequenas fortunas com exames, estão quase que continuamente tomando algum remédio e, no final, sempre descobrem que não se livraram de antigas complicações ou que contraíram alguma das novas doenças que não param de engordar a lista oficial de moléstias catalogadas - ela já soma 30 000 itens.

Além disso, a tecnologia médica parece ter promovido o distanciamento entre o terapeuta e o paciente, desumanizando a prática profissional e abalando uma relação milenar associada ao processo de cura. A julgar pelo novo horizonte trazido pela farmacogenômica, esse fosso deverá ampliar-se ainda mais quando as máquinas de prescrição invadirem os consultórios.

A noção de que há algo errado com a medicina como a conhecemos é consensual. Falam disso usuários e críticos dos serviços de saúde. E também os próprios médicos, tradicionalmente uma das categorias profissionais mais marcadas pelo corporativismo. O que varia são as leituras da situação, que apontam causas e soluções distintas para o problema. Outro sinalizador da crise que, aos poucos, se instala na área da saúde é a corrida de usuários da medicina convencional para as chamadas terapias alternativas, métodos de cura baseados em paradigmas que se opõem ao modelo médico hegemônico, geralmente originárias do Oriente. Na França, estima-se que 82% dos pacientes superpõem a seus tratamentos na medicina oficial as terapias alternativas.

Nos Estados Unidos, 35% da população já freqüenta consultórios de homeopatas, acupunturistas e outros terapeutas que não fazem uso de drogas químicas, os chamados remédios alopatas. (Veja matéria na pág. 60.) Inflando a onda de contestações, há uma série de falhas que contribuem para minar a confiança de pacientes nos ritos médicos tradicionais.

Tomem-se, por exemplo, alguns números dos Estados Unidos, o centro médico mais avançado do mundo. Ali, segundo estimativa da própria Associação Médica Americana, a cada ano 2,2 milhões de pessoas contraem doenças e outras 106 000 morrem devido a efeitos colaterais de medicamentos, a quarta causa de óbitos no país. Um espanto quando se considera o rigor da FDA, a agência federal de controle de drogas. O órgão costuma autorizar a comercialização de um novo remédio somente após uma seqüência de estudos que envolvem milhares de pacientes ao longo de cinco ou mais anos. (No Brasil, quinto país do mundo em consumo de medicamentos, a Fundação Oswaldo Cruz estima em 24 000 as mortes anuais por intoxicação medicamentosa.) Nos hospitais, 98 000 americanos teriam morrido, no ano passado, vitimados por erros médicos grosseiros. Mas Janet Corrigan, diretora de Serviços de Saúde do Instituto de Medicina (IoM), um órgão do governo, acha que o número foi subestimado. "O erro médico tem sido ocultado", diz Janet.

O número seria maior se computados os casos ocorridos em casas de repouso, prontos-socorros e consultórios. Incluam-se nesse rol de problemas as queixas contra efeitos colaterais das vacinas - foram 108 000, no ano passado, apenas através do site do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos - e se perceberá que o raio-x da medicina oficial está marcado por nódulos e obstruções.

Seria loucura negar, sob o pretexto dessas distorções, a contribuição dos serviços médicos à melhoria da qualidade de vida e à longevidade no mundo atual. Quem, vivendo em algum lugar minimamente civilizado, não conhece pelo menos um caso de alguém salvo da morte ou libertado da doença graças à pronta intervenção médica? O que os problemas em debate revelam é que essa contribuição pode estar aquém do que se imagina, numa relação custo-benefício bastante desfavorável para quem paga a conta - o paciente. Um estudo da Universidade Stanford, dos Estados Unidos, com o objetivo de aferir os fatores que levam uma pessoa a viver mais de 65 anos, mostrou que a assistência médica é o que menos pesa: apenas 10% num conjunto em que o estilo de vida participa com 53%, as condições ambientais com 20% e a herança genética com 17%. É muito pouco quando se compara esse percentual aos preços salgados e aos lucros gordos que envolvem a assistência médica.

Na última década, os serviços médico-hospitalares cresceram em torno de 12% ao ano nos Estados Unidos. Estima-se que eles responderão por 15% do PIB americano este ano, algo em torno de 1,3 trilhão de dólares. (Isso dá mais de duas vezes o PIB brasileiro.) Em média, cada cidadão americano gasta 4 800 dólares por ano com consultas médicas, exames e internações. No Brasil, onde a assistência médica compõe 4% do PIB (algo como 24 bilhões de dólares), a Fundação Getúlio Vargas estima que na cidade de São Paulo, o maior centro médico do país, a indústria da saúde cresce em torno de 15% ao ano.

Os números de Stanford apontam para problemas que, até há pouco, se mantinham encobertos pela suposição de que a simples sofisticação tecnológica e a variedade de drogas produzidas pela indústria farmacêutica bastavam para derrotar tanto as velhas doenças quanto as novas moléstias. Sabe-se agora que é enorme o desperdício na utilização da tecnologia - um dos principais fatores dos altos custos médicos -, bem como o abuso na prescrição de remédios e indicação de cirurgias. "A escola americana de medicina, modelo seguido no Brasil, é muito intervencionista", afirma a doutora Regina Parizi, presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. "Nesse modelo apela-se demais à cirurgia e aos procedimentos agressivos." Compare: enquanto no Japão apenas um em cada 100 000 habitantes é submetido a algum tipo de cirurgia coronária por ano, nos Estados Unidos essa proporção sobe para 61 por 100 000.

Não há também justificativa lógica para o fato de 51% dos partos no Estado de São Paulo acontecerem mediante operações cesarianas.

Na verdade, diz o psiquiatra paulistano e doutor em psicossomática Wilhelm Kenzler, cerca de 85% dos exames solicitados pelos médicos - o número varia de seis a 28 na consulta inicial - apresentam resultados negativos. E mais de 90% dos diagnósticos se resumem nas siglas NDN (nada digno de nota) ou DNV (distúrbio neurovegetativo, ou seja, uma crise nervosa). Mesmo assim a maioria dos pacientes volta para casa com uma receita de medicamento, cujo uso - dispensável na maioria dos casos, como se pode perceber - pode ser o ponto de partida de "doenças iatrogênicas", aquelas que são causadas por tratamentos médicos inadequados.

Eis aqui outro paradoxo. Enquanto se queixam do relacionamento frio e impessoal com a medicina, os pacientes cada vez mais transferem para os médicos e seu arsenal químico e tecnológico a responsabilidade pela própria saúde e a de seus familiares. Não raro, são eles próprios que acionam o circuito do desperdício e da dependência, pressionando pela prescrição de exames e de drogas. Se isso não acontece, costumam entrar em pânico ou duvidar do profissional, como afirma o pediatra americano Wells Shoemaker. Ao atender em seu consultório, no interior da Califórnia, um menino acometido de resfriado comum, o médico recomendou apenas repouso e boa alimentação. Para sua surpresa, a mãe da criança, inconformada, exclamou que não voltaria para casa sem uma receita. "Meu filho precisa de antibióticos", disse a mulher. "É assim que ele cura seus resfriados."

O pediatra ainda tentou explicar que antibióticos combatem bactérias e não vírus, os causadores de resfriados, além de serem substâncias perigosas, com muitos efeitos adversos no organismo. Em vão. Aos berros, a mãe do menino encerrou a consulta: "Vou procurar um doutor que saiba cuidar de crianças".

Mas, afinal, o que está mesmo acontecendo com a medicina? Por que tantos exageros e descontentamentos numa época em que o conhecimento das ciências médicas, segundo o doutor em neurofisiologia Renato Sabbatini, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, em Campinas, dobra a cada três anos e em que não existe limite para a tecnologia que desbrava o corpo humano? "Isso ocorre devido a três pontos críticos", diz Wilhelm. "À despersonalização, à tecnificação e à mercantilização da medicina." Na raiz desses males estaria o próprio conjunto de conceitos e hipóteses que fundamentam a moderna prática médica - o modelo biomédico moldado há três séculos.

Para entendê-lo é necessário recuar no tempo para encontrar dois marcos na história do conhecimento: o físico inglês Isaac Newton e o filósofo francês René Descartes. No século XVII, Newton concebeu o universo como um imenso mecanismo de relógio, possível de ser compreendido a partir do estudo de suas partes. Na mesma época, Descartes estabeleceu a visão dualista do homem, separando mente e corpo como entidades independentes. Nos séculos seguintes, tais idéias constituíram o cerne do que hoje é conhecido como o paradigma cartesiano-newtoniano, base de todos os sistemas conceituais nos diversos ramos da ciência. Na medicina, a aplicação do paradigma mecanicista deu ênfase ao estudo isolado de órgãos e tecidos, o que foi reforçado ainda mais pelos grandes avanços da microbiologia no século XIX.

O modelo biomédico consiste basicamente em três premissas: o corpo é uma máquina, a doença é conseqüência de uma avaria em alguma de suas peças e a tarefa do médico é consertá-la. A partir daí é que se determinou a prática médica atual, a organização da assistência à saúde e a formação dos recursos humanos nessa área, caracterizando-se a ruptura com a tradição inspirada no grego Hipócrates (século V a.C.) e seus valores humanísticos. "As raízes da medicina hipocrática se assentavam na filosofia da natureza e seu sistema teórico partia de uma visão holística que entendia o homem como um ser dotado de corpo e espírito", afirma Dante Gallian, pesquisador do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo. O médico clássico era um filósofo.

Conhecia a alma humana e a cultura local, andava muito próximo de seus pacientes e atuava como conselheiro em assuntos como o despertar da sexualidade nos adolescentes, os problemas de relacionamento do casal e outras questões da vida familiar. Diante das limitações terapêuticas, permanecia ao lado do enfermo e seus familiares, ajudando-os no sofrimento e na preparação para a morte. A figura romântica desse clínico geral foi sepultada pela explosão das especializações no século XX, quando o reducionismo impôs-se de vez à prática médica ocidental. O médico, então, tornou-se um técnico, um especialista com grande conhecimento específico e quase sempre sem noção do todo.

Note: a implantação do modelo biomédico não emergiu do nada, mas de uma convergência de fatores históricos e culturais que validaram, na época, os axiomas básicos da medicina ocidental como a conhecemos. O trabalho do químico francês Louis Pasteur, pioneiro no estudo dos microorganismos, é talvez o pilar mais importante desse modelo. Pasteur demonstrou a correlação entre bactérias e doenças e atribuiu a micróbios específicos a causação de doenças específicas. Opôs-se assim a Claude Bernard, cuja teoria, muito difundida no século XIX, apresentava a doença como resultado de uma perda de equilíbrio do organismo provocada por fatores externos e internos. Bernard afirmava que os micróbios são inócuos e que o corpo do homem é hábitat natural de bactérias, úteis à eliminação de toxinas. Em apenas 1 mililitro de saliva humana, por exemplo, existem 150 milhões de bactérias.

Essa coexistência pacífica dos microorganismos com o nosso corpo só seria rompida, segundo Bernard, quando este, agredido por fatores ambientais e hábitos não saudáveis, se desregulasse e se transformasse em um "terreno" propício ao surgimento de doenças. Em vez de ser a causa primária das doenças, as bactérias seriam manifestações sintomáticas de um distúrbio fisiológico oculto. Os danos a tecidos e órgãos, na tese de Bernard, decorreriam da reação excessiva do organismo provocada por descontrole dos mecanismos de defesa.

Pasteur, que, além de pesquisador meticuloso era um polemista hábil, acabou infundindo sua teoria, favorecido pela eclosão, na Europa, de epidemias que lhe permitiram demonstrar o conceito de causação específica. Desde então, o combate aos microoganismos geradores de doenças passou a ser o foco da medicina ocidental em sua pretensão de tornar-se uma ciência exata. No século XX, o desenvolvimento de vacinas e medicamentos contra enfermidades infecciosas, especialmente os antibióticos, os antidepressivos e a descoberta do hormônio cortisona e seu poder antiinflamatório, selaram o triunfo do modelo biomédico no controle de males devastadores. Também a eficácia da medicina de emergência em casos de acidentes, infecções agudas e outros imprevistos contribuiu para esse êxito.

Os novos recursos da medicina e da farmacologia passaram a ser vistos como os grandes responsáveis pela melhoria das condições de saúde e o aumento da expectativa de vida nos últimos 100 anos. (Em 1900 um brasileiro vivia, em média, 37 anos; hoje vive 68, quase o dobro.)

O brilho de tanto sucesso ofuscou por várias décadas questões como o perigo dos efeitos colaterais dos medicamentos, a influência dos fatores sociais, econômicos e culturais no aumento da expectativa de vida e a contribuição poderosa dos processos psíquicos e dos hábitos para a saúde do organismo. Mas, nos últimos tempos, pesquisas como a da Universidade Harvard, atestando a supremacia do estilo de vida entre os fatores de saúde e longevidade, trouxeram para o centro do debate antigos argumentos. Um deles, apresentado pelo inglês Thomas Mckown, em seu livro The Role of Medicine: Mirage or Nemesis (O papel da medicina: ilusão ou castigo), ainda inédito no Brasil, é o que atribui o enorme declínio da mortalidade, a partir do século XVIII, ao aumento da produção de alimentos, com reflexos na nutrição das pessoas, à melhoria das condições de higiene e saneamento e à redução da pobreza.

Segundo Thomas, as principais doenças infecciosas já tinham atingido o seu pico e estavam em declínio bem antes da chegada dos antibióticos ou das campanhas de imunização, fato que demonstraria a responsabilidade modesta que a intervenção médica teve naqueles casos. Quando a vacina contra sarampo foi adotada nos Estados Unidos, em 1964, por exemplo, o índice de mortes provocadas pela doença já havia declinado 95% desde 1915.

Seja como for, os medicamentos passaram a ser vistos como a chave para a cura de todos os problemas de saúde. E, como conseqüência, a produção de remédios tornou-se um dos negócios mais lucrativos do planeta, detalhe que veio a influenciar profundamente o ensino e a prática da medicina. A aliança das ciências médicas com a indústria farmacêutica, ainda hoje um dos muitos temas tabus entre os médicos, foi notada pela primeira vez no início do século XX, quando a Associação Médica Americana promoveu uma pesquisa sobre as escolas de medicina. O objetivo do estudo era proporcionar uma base científica à formação do médico. Mas havia um objetivo paralelo: selecionar escolas que receberiam verbas vultosas de fundações como a Rockefeller e a Carnegie, desde que atendessem a critérios preestabelecidos. A pesquisa deu origem ao chamado Relatório Flexner, documento que influenciou a reforma do ensino médico nos Estados Unidos.

"O interesse do big business não é curar, mas manter as doenças sob controle de remédios", diz Wilhelm. Segundo o psiquiatra, que também é professor de medicina psicossomática na Faculdade de Medicina Santo Amaro, em São Paulo, a grande indústria farmacêutica mobiliza bilhões de dólares para financiar escolas e centros de pesquisa médica, além de cortejar médicos e pesquisadores com mordomias que incluem viagens a congressos e estágios no exterior. "O pesquisador passa a ser praticamente um colaborador do laboratório farmacêutico e o médico, um de seus propagandistas", afirma Wilhelm. A finalidade desses estudos seria quase sempre validar novos produtos prestes a entrar num mercado novo.

Há 20 anos, o mercado global de medicamentos movimentava apenas 12 bilhões de dólares. Agora a indústria farmacêutica quer chegar a 2002 faturando 400 bilhões de dólares. É como se dois terços de toda a riqueza produzida no Brasil no ano passado fosse empregada apenas na compra de remédios alopáticos. Mas o que move a parceria da indústria farmacêutica com a pesquisa e o ensino médico não é o mero desejo de lucro, diz Serafim Branco Neto, secretário Executivo da Abifarma, a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica. "Perde-se muito dinheiro em pesquisas que não chegam a nada ou desaconselham o uso de algum novo produto." Segundo Serafim, o valor médio investido na pesquisa de uma única nova droga é de 400 milhões de dólares.

"Não há nada errado no modelo biomédico. O paradigma da patologia celular continua válido e é suficiente para explicar as doenças e buscar a sua cura", diz Renato Sabbatini. "A boa medicina é científica, apóia-se em evidências." Para Renato, muitas das limitações da medicina convencional, entre elas os efeitos adversos dos remédios, devem ser superadas nos próximos anos graças aos progressos da biologia molecular. Medicamentos feitos sob medida, a partir do conhecimento do código genético do paciente, serão mais precisos. E as intervenções no DNA poderão tornar o organismo humano mais resistente às condições ambientais ou dotado de habilidades próprias de outras espécies como, por exemplo, enxergar no escuro.

O problema da medicina, diz Renato, está circunscrito à exploração econômica da atividade, que transformou o médico num assalariado mal pago e afetou a qualidade do ensino da medicina com a proliferação desordenada de cursos - outro grande filão na área da saúde. O Brasil possui 104 faculdades de medicina. Apenas em Ribeirão Preto, cidade média do interior de São Paulo, existem quatro. Entre as 81 faculdades submetidas, no ano passado, ao exame de avaliação do MEC, o provão, mais de um terço recebeu conceito ruim ou péssimo.

Lançados em ritmo de linha de montagem no mercado urbano (há três anos metade dos 216 000 médicos atuantes no Brasil trabalhava em São Paulo e no Rio de Janeiro), muitos desses profissionais acabam incorrendo em transgressões éticas que vão além da indiferença no trato com o paciente. "O que esperar de um médico que ganha 3 reais por consulta no Sistema Único de Saúde, o SUS, se ele pode ganhar 400 solicitando uma tomografia ou 40 000 numa cirurgia paga pelo cliente?", pergunta Renato. Uma expressiva parcela dos médicos tornou-se, enfim, vítima de situações estressantes, nem sempre levadas em conta quando eles cuidam da própria saúde e da de seus pacientes.

Chega a ser irônico que a expectativa de vida dos profissionais da área médica, mesmo em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, seja cerca de dez anos menor que a média das outras pessoas. Também causa espanto que o alcoolismo, o abuso de drogas e o suicídio apresente elevados índices entre os médicos. Um estudo da Universidade da Califórnia, realizado no ano passado entre 9 600 médicos americanos, mostrou que 20% deles usaram drogas derivadas de ópio, prática facilitada pelo acesso rotineiro à morfina e substâncias similares utilizadas em hospitais. O alcoolismo é um vício tão espraiado entre médicos que foi criada uma versão especial dos grupos de auto-ajuda Alcoólicos Anônimos só para atendê-los - o International Doctors in Alcoholics Anonymous, IDAA. O mais grave em tudo isso é que, com raras exceções, os médicos dependentes de drogas continuam na ativa, às vezes atendendo em UTIs e realizando cirurgias.

Como entram os pacientes nessa história? Para começo de conversa, é preciso frisar que muitos dos males apontados na medicina ocidental têm relação causal com a postura passiva de indivíduos como eu e você. De modo geral, os pacientes delegam aos médicos a responsabilidade integral pelo diagnóstico da doença e pela decisão sobre que terapia adotar. Essa tradição paternalista agrada à maioria dos pacientes, que não está nem um pouco interessada numa participação que lhes exija algum tipo de esforço. Afinal, por que operar sofridas mudanças de comportamento e de hábitos alimentares, por exemplo, se é tão mais fácil engolir uma pílula mágica? Essa atitude, no entanto, começou a mudar. E, com isso, alguns pilares da rotina médica ocidental passaram a se mover.

A voz dos pacientes precisa ser ouvida", diz Patrick Terry, líder de um grupo de pacientes de Sharon, Massachusetts, nos Estados Unidos, acometidos de PXE, doença que resulta da acumulação de cálcio nos tecidos e pode cegar suas vítimas. A voz dos usuários começa a ser ouvida em diferentes estágios da cadeia médica. Grupos similares ao de Patrick, como o Genetic Interest Group, da Inglaterra, e outros na Holanda, na Bélgica e nos Estados Unidos não se mobilizam apenas por mais humanismo na medicina. Eles querem influenciar o desenvolvimento de drogas contra doenças incuráveis, inclusive propondo-se a adquirir patentes de novos remédios com a intenção de barateá-los.

Iniciativas como essa já produzem resultados lá fora. E no Brasil também. Nos últimos anos, por exemplo, centenas de escolas de medicina dos países desenvolvidos anunciaram ajustes em sua grade de conteúdos, com a inclusão de disciplinas que abrangem relações humanas, dinâmica familiar, violência doméstica e até fé e compaixão. "No Brasil também estamos discutindo a reformulação do ensino médico", diz Regina. "O objetivo é formar profissionais mais generalistas e capazes de lidar com pessoas, seguindo os passos das principais faculdades de medicina do mundo." Uma pesquisa patrocinada pelo governo americano revelou que, para 85% dos pacientes, o valor de um médico se deve mais à sua capacidade de ouvir e explicar do que ao peso do seu currículo.

É pouco provável que o modelo de medicina hegemônico no Ocidente venha a ser alterado em sua base nos próximos anos. Mesmo com as limitações e distorções agora em debate, a medicina convencional ainda é o recurso mais próximo e mais rápido para o enfrentamento de situações extremas no campo da saúde. Mas é bom prestar atenção ao que se passa na vizinhança do establishment médico. Neste momento, cerca de 200 hospitais americanos já utilizam terapias não-alopáticas para complementar o tratamento de seus pacientes. Escolas de medicina do primeiro time, como as das universidades Harvard, Stanford e Columbia, mantêm departamentos voltados exclusivamente para a pesquisa de terapias alternativas e de práticas holísticas baseadas no conhecimento oriental. Grupos de médicos brasileiros ligados a grandes hospitais, como o Hospital do Servidor Municipal de São Paulo, e à Universidade de São Paulo, discutem uma abertura da medicina convencional na direção de outros sistemas de cura.

Como em qualquer crise, a da medicina moderna pode ser um sinal de renovação.

jmorais@abril.com.br


Ai!

A dor é o sintoma patológico que mais leva pessoas aos médicos. Só no Brasil 80% das consultas são relacionadas a esse fenômeno biológico, o mais explícito dos sinais do organismo. Recentemente, a dor foi considerada o quinto sinal vital. Apesar disso, a incapacidade dos médicos de lidar com a dor de seus pacientes continua a ser um dos pontos críticos da medicina moderna. Como a dor não pode ser medida objetivamente, a exemplo da pressão do sangue e dos níveis de colesterol, é difícil para a maioria dos profissionais avaliar sua extensão e efeitos sobre o doente. O tema tem sido enfocado em congressos internacionais e, neste mês, será debatido em São Paulo durante o Simpósio Brasileiro e Internacional sobre Dor, organizado pelo especialista Cláudio Fernandes Correa.

Há alguns avanços nesse campo. O dolorímetro, aparelho que capta ondas infravermelhas produzidas pelo calor do corpo, já permite ao médico obter uma medida aproximada da intensidade da dor física. Outra técnica menos sofisticada, mas eficaz principalmente em crianças, é a escala de dor - uma faixa contendo cores, números ou figuras com expressões que vão do sorriso à careta. O paciente, então, é solicitado a dizer qual ícone ou número expressa com mais exatidão a sua dor. Mesmo diante de um número concreto, o médico deve ponderar que a percepção da dor varia de paciente para paciente. Problemas psicológicos podem aumentar em até 20% a sensação dolorosa de uma pessoa. Por outro lado, dores crônicas costumam gerar depressão e problemas de relacionamento.

Em clínicas especializadas, como a do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, a cura da dor é tentada com a utilização de eletrodos para bloquear as vias nervosas que transportam a sensação desagradável ao cérebro. Os terapeutas holísticos acham isso um erro. "A dor é a luz vermelha que nos adverte. Suprimi-la com remédios ou outros recursos é como tapar a boca de quem está se afogando", diz o psiquiatra e terapeuta holístico Wilhelm Kenzler.

Um outro jeito de curar

Amedicina convencional, baseada na alopatia, no combate aos sintomas e em intervenções de modo geral agressivas ao organismo do paciente, está aos poucos perdendo a sua posição hegemônica nos países ocidentais. Surpreendida pela revolução comportamental que varreu o Ocidente nas últimas décadas do século XX, questionando vários dos princípios iluministas que regem a cultura européia - e seus herdeiros nas Américas -, a medicina convencional passou a dividir espaço com a homeopatia, a acupuntura, a ioga, a meditação e dezenas de outras práticas terapêuticas não-invasivas, quase todas de origem oriental, antes confinadas entre nós ao terreno do curandeirismo.Chame-se a isso de medicina alternativa ou complementar, integrativa ou holística, a verdade é que algo está mudando numa área vital para as pessoas: a manutenção da saúde. E a tendência de mudança não reflete apenas o interesse dos indivíduos por tratamentos mais suaves e com menos riscos de efeitos adversos. Há aí também indícios de uma abertura em direção a um novo paradigma científico, cujo impacto na maneira de o homem lidar com a medicina, com as doenças e com sua própria vida promete ser avassalador.

A velocidade com que as coisas estão acontecendo espanta. Atualmente, 75% das escolas de medicina dos Estados Unidos oferecem cursos de especialização em terapias alternativas ou desenvolvem estudos sobre o tema. Calcula-se que metade dos 270 milhões de americanos costuma recorrer a algum tipo de tratamento não-convencional, o que representa um enorme fator de pressão sobre os prestadores de serviços de saúde. Sem falar nos lucros de um mercado que se constrói à margem da medicina convencional e que já movimenta 30 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos. É o próprio governo americano, através do Instituto Nacional de Saúde (NIH), um órgão equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil, que comanda um mutirão de pesquisas para medir a eficácia dessas terapias.

Na Inglaterra já há hospitais formados apenas por homeopatas e o Canadá acaba de tornar-se o primeiro país das Américas a reconhecer a medicina tradicional chinesa como especialidade médica e a autorizar a formação regular de profissionais nessa área.

O fenômeno se repete no Brasil, ainda que em menor escala. O país possui cerca de 14 000 médicos homeopatas, 48 vezes mais do que há duas décadas, quando a homeopatia foi reconhecida como especialidade médica pela Associação Médica Brasileira. Mais de 5 000 médicos se dedicam à acupuntura no país, outra terapia alternativa só há pouco elevada à condição de especialidade médica. Da mesma forma, sob o pretexto de debater a humanização da medicina, cresce o número de médicos alopatas, formados à luz da medicina oficial, que promovem reuniões discretas e encontros públicos nos quais as terapias alternativas são apresentadas como métodos substitutivos de tratamentos baseados em drogas e cirurgias. "Está na hora de admitirmos que existem outras formas de curar doenças", diz a cardiologista Diana Ribeiro Dantas, que coordenará o próximo encontro, a ser realizado em Natal, no mês de junho.

O adjetivo holístico é, com certeza, o que melhor expressa a natureza desses novos tipos de cura. O holismo é uma teoria que vê o homem como um todo indivisível, impossível de ser explicado como se seus componentes físico, psicológico e espiritual pudessem existir separadamente. A medicina holística é, assim, a antítese do modelo biomédico, mecanicista, que se concentra no estudo isolado das partes da "máquina" humana e dos processos químicos específicos que a fazem funcionar. Diante de um doente qualquer, um terapeuta holístico subestimará a classificação da doença, voltando a atenção para o estilo de vida do doente, suas relações sociais, seu estado emocional, sua alimentação. Esse processo de interação com o paciente faria toda a diferença. As entrevistas demoradas, um traço marcante da medicina alternativa, transformam consultas simples em verdadeiras sessões de terapia psicológica nas quais laços de confiança e afeto unem o doente ao terapeuta.

As principais terapias holísticas compõem o repertório de recursos da medicina tradicional chinesa e da medicina ayurvédica, da Índia, com seus sistemas inspirados no taoísmo e no hinduísmo. A grande exceção é a homeopatia, criada pelo médico alemão Samuel Hahnemann no século XVIII. A rápida expansão de todas elas, no entanto, só foi possível depois que algumas descobertas da ciência, no século XX, proporcionaram outro tipo de sustentação às idéias holísticas.

"As teorias da física quântica, dos sistemas auto-organizadores e da psicologia transpessoal demonstraram, com as próprias ferramentas da ciência cartesiana-newtoniana, que somos parte de algo mais vasto que os nossos organismos", afirma o neurocirurgião fluminense Francisco di Biase. Ele é um dos autores do livro Science and The Primacy of Consciousness (A ciência e a primazia da consciência), em parceria com especialistas americanos em física quântica e psicologia transpessoal, ainda inédito no Brasil. O grande aval foi dado pela teoria quântica, ao demonstrar que as unidades subatômicas da matéria são abstratas e podem se apresentar ora como partículas, ora como ondas. Tais padrões dinâmicos, segundo a teoria, formam as estruturas estáveis que constituem a matéria e lhe conferem o aspecto sólido, no nível macroscópico, que percebemos a olho nu. Ou seja: tudo o que enxergamos, inclusive nossos corpos, seria resultado da condensação de energias, padrões dinâmicos imateriais.

Uma explicação muito semelhante à cosmovisão de antigas doutrinas místicas.

"É bobagem", rebate o neurofisiologista Renato Sabbatini, da Unicamp. "Os princípios da mecânica quântica só se aplicam ao mundo subatômico e não existe nada que comprove efeitos quânticos na consciência e nas estruturas macromoleculares." Verdade? "Sim, mas só em parte", treplica o indiano Harbas Lal Arora, doutor em física pela Universidade de Waterloo, no Canadá, e terapeuta holístico com atuação em hospitais de Fortaleza. O próprio Einstein, autor da equação que demonstra que a matéria é energia condensada, no último ano de sua vida, segundo Harbas, admitiu a existência de formas de energias sutis que ainda não podem ser medidas diretamente mas que são muito poderosas. Tais energias, deduz Harbas, manifestar-se-iam, entre outras formas, como emoções, sentimentos, vontades e intuições. E seus efeitos no corpo poderiam ser mensurados por meio de mudanças nas ondas cerebrais, nos ritmos respiratório e cardíaco e nas secreções glandulares. "São energias que atuam no nível subatômico.

Seus campos transcendem as limitações do espaço, do tempo e das energias físicas. E elas têm extrema relevância nos estados de doença, saúde e bem-estar", diz Harbas.

Ao espetar agulhas em pontos estratégicos do corpo, um acupunturista chinês se propõe desbloquear as trilhas, conhecidas como meridianos, por onde fluiria a energia vital, o chi. Um médico convencional dirá que ele apenas estimula pontos especiais do sistema nervoso capazes de provocar a liberação, pelo cérebro, de endorfinas, neurotransmissores de ação sedativa cujas moléculas se assemelham às da heroína. Já a homeopatia, aos olhos da medicina convencional, não conta com explicações plausíveis. A tese homeopata parte do princípio de que qualquer mal pode ser curado por uma substância vegetal ou mineral que produza em um homem são o mesmo sintoma da doença (exatamente o oposto do que faz a alopatia), mas, nesse caso, utiliza-se apenas a quintessência do princípio ativo, ou seja, a sua energia.

"Medicina alternativa é apenas o nome politicamente correto para o que normalmente chamamos de fraude", diz Leon Jaroff, ex-editor da revista americana Discover, especializada em ciência. O rápido crescimento da medicina alternativa e a livre prática de suas modalidades, de fato, trazem embutido o risco do surgimento de picaretagens ou, no mínimo, de esquisitices como a urinoterapia, que consiste em o paciente beber a própria urina, um excremento rico em toxinas. Só que, de um lado, há doutrinas orientais com milhares de anos de eficácia. E, de outro, até defensores ferrenhos da medicina alopática admitem que as terapias holísticas produzem, sim, um benefício, mesmo que não exatamente por causa de suas propriedades intrínsecas.

"O que funciona é o efeito placebo", afirma Renato, numa referência aos resultados obtidos com grupos de controle em pesquisas de medicamentos alopáticos. Tais indivíduos, tratados com substâncias sem ação específica sobre os sintomas da doença, como pílulas de farinha e açúcar, acabam apresentando sinais de melhoria simplesmente por suporem estar recebendo o remédio real. "A crença do paciente no tratamento é fundamental e sabe-se, hoje, que ela responde por 50% da eficácia de qualquer medicamento, inclusive antidepressivos", diz Renato. O assunto ganhou tamanha importância no meio científico que o NIH promoveu, em novembro passado, um painel com cientistas das principais universidades americanas com o único propósito de debater a adoção de placebos na rotina médica. Seria um meio de evitar o uso excessivo ou desnecessário de drogas. "O efeito placebo é uma conseqüência da participação do estado psíquico na cura do paciente, o que nos leva a inferir que a saúde física resulta do bem-estar psicossomático.

Infelizmente essa interrelação entre corpo e mente é praticamente desprezada na medicina convencional", afirma Harbas.

Holistas como o psicólogo Giulio Vicini, membro da equipe que implanta, no Senac de São Paulo, um curso de graduação em medicina tradicional chinesa, e a especialista em alimentação e educação Hildegard Richter prevêem que a medicina do futuro será totalmente "vibracional", baseada nas energias sutis e nos processos psíquicos. Mas, a médio prazo, o que se espera é uma composição entre sistemas médicos divergentes. "A medicina acadêmica e a medicina alternativa não são antagônicas, mas complementares", lembra o homeopata paulistano Antonio César Ribeiro Deveza da Silva. O único receio de boa parte dos terapeutas holísticos é que a medicina oficial acabe assimilando as terapias alternativas, adaptando-as ao modelo biomédico e restringindo seu exercício aos médicos. "Isso desfiguraria por completo aspectos terapêuticos que são parte de um sistema coerente", afirma Eduardo Alexsander Amaral de Souza, terapeuta oriental e reichiano no Rio de Janeiro.

Para saber mais

Na livraria: Reclaiming Our Health, John Robbins, HJKramer, Estados Unidos, 1996

O Ponto de Mutação, Fritjof Capra, Cultrix, 1999

The Placebo Effect, Anne Harrigton, Harvard University Press, Estados Unidos, 1999

O Homem Holistico, Francisco di Biase, Vozes, 2001

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Fonte: Revista Superinteressante de maio de 2001

domingo, 9 de março de 2008

Amparadores Espirituais - Parte I

Amparadores Espirituais - Parte I
:: Wagner Borges ::


Em entrevista especial à Revista Sexto Sentido, o professor Wagner Borges, especialista em projeção astral, fala de modo claro e objetivo sobre os Amparadores Espirituais - seres que auxiliam as pessoas na hora da morte - fornecendo detalhes impressionantes sobre a transição a que chamamos de morte e as dimensões do outro lado da vida.

- Nós sabemos que você faz parte de um grupo de Amparadores Espirituais no plano astral, que ajuda as pessoas na hora da morte. Quem são esses Amparadores e exatamente de que maneira eles, ou vocês agem?

WB: Os amparadores são um grupo de espíritos formado principalmente por orientais. São egípcios, chineses, tibetanos, pessoas que já lidaram com algo parecido aqui na Terra, em outras épocas, que desencarnaram e estão em um nível excelente. Quando o corpo espiritual se desprende do físico durante o sono ou na morte, ambos estão conectados por um campo energético, que é a aura. Nessa aura estão os chacras e os filamentos energéticos que saem desses chacras se juntam para formar uma ligação - a ligação do espírito com o corpo através do conhecido cordão de prata. Na hora do desprendimento definitivo ou morte, seres espirituais bondosos e evoluídos aparecem e desconectam esses filamentos para desprender o espírito, da mesma forma que um parteiro ajuda no nascimento de um bebê e no desligamento da ligação que é o cordão umbilical. Os seres desligam o cordão de prata e sobra um coto de cordão, só que não é no umbigo, mas na cabeça do corpo espiritual. Nesse momento, normalmente a pessoa apaga, como um mecanismo da consciência. Então ela é puxada para um vórtice, como se fosse uma passagem entre dimensões - por isso as pessoas que têm experiências de quase-morte falam sobre passar por um túnel de luz, que é uma abertura entre dimensões. Então, os Amparadores puxam a pessoa para fora do corpo e a ajudam a atravessar o buraco energético, fazendo com que ela saia na dimensão seguinte, que as pessoas chamam de plano espiritual ou plano astral. Normalmente, ela desperta algumas horas ou dias depois num hospital espiritual. Esses hospitais foram construídos por seres avançados, que elaboram formas mentais e as plasmam com o pensamento. São construções energéticas que, para os espíritos naquela freqüência, são tão sólidos quanto os objetos desta nossa dimensão terrestre. Os espíritos mais sutis atravessam esses ambientes porque são mais rarefeitos, mas naquela dimensão, para quem está lá, os objetos são tão densos quanto os daqui são para nós. A pessoa se vê num ambiente propício para a recepção de recém-desencarnados, onde o que sobrou do cordão de prata é então rompido.

A pessoa acorda num hospital extrafísico após a morte, não porque esteja doente, mas para romper essa conexão. Esses hospitais são locais de transição. Dali ela passa para a dimensão correspondente ao seu nível. Nossos pensamentos e emoções se plasmam energeticamente em nossa aura, em nosso corpo espiritual. Assim, nós somos a somatória do que pensamos, sentimos e fazemos durante a vida. A cada noite, quando nos desprendemos para fora do corpo físico, o corpo espiritual carrega a vibração de tudo que ocorreu naquele dia. Na hora da morte, a vibração do corpo espiritual é a soma de tudo que você pensou, sentiu e fez durante uma vida inteira.

Pode-se dizer que cada pessoa que desencarna carrega um campo vital contendo tudo o que ela é como resultado de tudo o que desenvolveu e fez em vida. Quem tem uma vibração ´X´ no corpo espiritual, após a morte é atraída para o plano extrafísico de uma dimensão ´X´, compatível com a vibração que ela porta.

O plano espiritual se divide em subdimensões. Muitos as dividem em sete níveis, outros em três. Os que dividem em três fazem da seguinte maneira: plano astral denso, plano astral médio e plano astral superior. No denso estariam as pessoas complicadas, seria o chamado umbral, o Inferno. O plano astral superior seria o Paraíso do Espiritismo. E o plano astral médio seria onde se encontram as pessoas mais ou menos, ou seja, iguais a nós, mais ou menos boas, mais ou menos complicadas. Em outras palavras, a maioria.

- E o lugar que os espíritas chamam de Umbral?

WB: A palavra umbral significa muro, e é a divisória entre o plano terrestre e o plano astral mais avançado. Uma divisória vibracional, que quem tem o corpo espiritual denso não atravessa, como uma peneira vibracional. Eu costumo dizer que Inferno e Paraíso são portáteis: você os carrega dentro. Se V. está bem, o Paraíso está dentro de você. Se sai do corpo nessa condição, você é atraído por uma vibração semelhante a que existe em seu interior. A passagem para o Paraíso está dentro de nós. E o Inferno é a mesma coisa, é um estado íntimo. Veja uma pessoa cheia de autoculpa e compare com aquela imagem clássica do diabo colocando alguém dentro da caldeira e espetando. A autoculpa espeta mais do que qualquer diabo, porque nem é preciso o Inferno vir de fora: ele já está dentro e o diabo é você mesmo.

O Umbral é uma região muito pesada porque reflete o estado íntimo de quem lá está. Você encontra lugares que lembram abismos, cavernas escuras, tudo exteriorizado do subconsciente dos espíritos, como formas mentais. Quando você olha no fundo desses abismos vê que está cheio de espíritos, mas eles não voam, são densos. Você encontra favelas no plano espiritual, cidades medievais. Os espíritos vivem presos a formas mentais das quais, muitas vezes, é difícil escapar. São esses indivíduos que os seres evoluídos buscam ajudar nessas dimensões.

- E como eles fazem isso?

WB: Normalmente, resgatam os sofredores usando médiuns ou projetores astrais fora do corpo, utilizando a energia do cordão de prata para se tornarem mais densos e puxar as pessoas. É por isso que, desde os 15 anos, fui levado muitas vezes a esses ambientes para dar passes nos espíritos, fora do corpo. Você dá um passe e isso muda o padrão vibracional do corpo espiritual da pessoa. Tão logo isso acontece, os espíritos mais avançados, que não tinham acesso, conseguem pegar a pessoa e levar para um hospital extrafísico. Aí começa um tratamento energético, puramente de luz, para desintoxicar os chacras extrafísicos do corpo energético, e tratamento psicológico para fazer a pessoa encarar sua situação, conseguir se entender e sair daquele problema. E também é trabalho, terapia para que a pessoa saia daquilo sem ter autoculpa, porque a autoculpa segura a pessoa no passado. Ela precisa entender que Deus não condena ninguém.

Eu já passei por lugares desse Umbral em que era tudo escuro, e eu sentia que passava por cima de pessoas que se arrastavam. A única luz que tinha ali era a minha, um ser humano. E algumas pessoas se seguravam em mim e falavam, "Anjo, me tira daqui!". Eles achavam que eu era anjo porque tinha alguma luz.

- E você não tinha como tirar essas pessoas de lá?

WB: Não, porque tinha ido tirar uma pessoa determinada. Eu estava direcionado para pegar uma e puxar. E, também, vários daqueles que estão ali sofrendo e pedindo ajuda, se forem tirados daquele ambiente e levados para um lugar melhor, basta que se recuperem um pouquinho e já começam a aprontar. Esse pessoal precisa ralar um pouco para perceber que não se pode fazer ao outro aquilo que você não quer que façam com você. Não é uma punição divina, é causa e efeito. O que você fez para o outro fica marcado em você. Eu cresci no Rio, na Baixada Fluminense. Vários amigos meus morreram por causa de droga, outros porque se tornaram policiais e morreram em tiroteio com bandidos, cumprindo o dever, e outros se tornaram marginais. Um desses rapazes virou policial e fez parte de um grupo de extermínio de bandidos. Eu já tinha me mudado para São Paulo, e ele inclusive já não mora mais no Rio - deixou a polícia, nem sei onde está. Eu despertei fora do corpo no Rio de Janeiro, na rua do bairro onde cresci, e comecei a ouvir uma gritaria. Lá na ponta da rua começou a aparecer uma energia alaranjada, pesada, e de repente chega o rapaz correndo. Ele estava fora do corpo perseguido por um grupo de doze espíritos, com pedaços de pau nas mãos - tudo plasmado: facões, etc. Gritavam. "Pega, pega esse miserável!". E o sujeito estava projetado fora do corpo, ou seja, fora do corpo ele é perseguido pelos sujeitos que ele matou. Eles passaram correndo perto de mim e, quando ele passou, eu vi que estava cheio de buracos de bala, plasmado no corpo espiritual. Aí eu entendi uma coisa que o espírito André Luiz sempre falou nos seus livros: cada coisa que você faz para o outro fica marcada em você espiritualmente. Cada bala que ele tinha enfiado em alguém, a marca estava nele, porque a forma mental do ato ficou grudada nele. Se durante o sono ele já está assim, imagine na hora em que desencarnar. Ele vai ficar nesse plano astral denso por um bom tempo.

- Lembra um pouco o filme Ghost.

WB: Muitas coisas ali são reais, e também no filme Sexto Sentido. Ou aquele filme Amor Além da Vida, com Robin Williams - aquela parte de formas mentais plasmadas. É a riqueza do filme. Aquela parte do Umbral, em que ele vai buscar a mulher suicida, é baseada na Divina Comédia do Dante Alighieri. Dante foi um grande projetor. Como vivia no século XIV, em Florença, Itália, ele não podia falar abertamente porque iria para a fogueira. Aí ele camuflou os relatos. Todas as pessoas que se projetam e já foram nesses planos pesados sabem que o Dante era um viajante astral, porque já viram coisas parecidas. É uma outra realidade, que a humanidade não conhece. Mas uma coisa é certa: não vale a pena fazer o mal. Não é que Deus vai punir ou o Diabo vai pegar, mas você carrega dentro de si tudo aquilo sai para fora e forma o ambiente. Todo algoz se transforma em vítima. O que Jesus ensinou sobre tentar fazer o bem, tentar ajudar os outros na medida do possível não foi à toa. Aquilo não tem nada de religioso - é código de vida.

(Matéria publicada na Revista Sexto Sentido N. 21 - maio de 2001)

Wagner Borges é pesquisador,
conferencista e instrutor de cursos de Projeciologia
e autor dos livros Viagem Espiritual 1, 2 e 3 entre outros.
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fonte: http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=7244&onde=2