domingo, 15 de fevereiro de 2009

O livre-arbítrio do nosso Amigo


Existem muitas definições para amizade... umas boas, outras nem tanto... mas... amizade realmente é um dos temas mais comentados e postados...
Talvez pela sua grande importância.. que nem sempre nos damos conta...
Bem... como sobre tudo na vida, que seja sério, as reflexões podem nos abrir os olhos... podem nos trazer esclarecimentos e até mudar nossos pontos-de-vista sobre alguns assuntos... porque mudar opiniões, nem sempre é errado... ao contrário, dependendo, é até uma prova de maturidade emocional e sabedoria.
Então, refletindo sobre amizade, me lembrei de alguns fatos, de algumas histórias, de leituras e comparei com algumas de minhas vivências nesta área e pude concluir (até o momento) algumas idéias.
E entro aqui na questão do livre-arbítrio do OUTRO.
Amizade, é entendermos que não podemos cerciar o livre-arbítrio do outro;
É sabermos até onde podemos dizer sim ou não à um pedido de um amigo; e este SiM ou NÃO é no que o nosso amigo deseja, e não nós.
É percebermos que desde que não nos prejudiquemos e não façamos nada para prejudicarmos alguém, no sentido das questões das leis morais e cíveis, um pedido de um amigo pode e deve ser atendido;
É entendermos que amizade não é uma vestimenta - é uma postura.
qualquer atitude banal, superficial ou individual de nossa parte, é qualquer coisa, menos amizade real.
Fazermos só o que achamos que podemos ou queremos, ou que achamos certo ao nosso amigo ou por ele, é tomarmos decisões muitas vezes contrárias às que ele deseja, ou ainda, é decidirmos se ele pode ou não receber um favor que nos pediu - isso ultrapassa o respeito ao livre-arbítrio do próximo e deixa de ser uma postura verdadeiramente amiga passando a ser uma atitude ditatorial.

Quem sabe o que é bom para si, é a própria pessoa - este é um direito institucional e democrático - é o seu livre-arbítrio - um direito dado e garantido por Deus e, caso a pessoa esteja errada neste entendimento, as próprias consequências lhes mostrarão.

Enquanto "decidirmos" o que queremos ou não fazer pelo amigo, independente de sua vontade, estaremos atendendo à nossa vontade e não à vontade do outro;
Quando Jesus nos orientou a andar 2 léguas com o inimigo que nos convoca a andarmos apenas uma com ele, estava nos ensinando a sermos "amigos"; podemos ver neste ensinamento que "atendermos aos pedidos de outrem", deve ser uma atitude sempre que possível costumeira. Fora disso, estaremos sendo egoístas e individualistas, mergulhados na prepotência de ditarmos o que é o certo e o que é o errado - inclusive para o próximo!

Um caso bastante interessante é do Chico Xavier:
Contam que uma vez, havia um homem em sua cidade que bebia tanto que voltava sempre para casa cambaleando perigosamente.
Uma certa noite, este mesmo homem na porta de um bar pede ao Chico uma cachaça antes de voltar para casa.
Para espanto dos acompanhantes do Chico, ele atende ao pedido do homem e lhe compra uma cachaça.
Criticado e questionado pelos companheiros, Chico explica que mais valia ele beber mais uma cachaça e cair no chão ali mesmo e dormir até o dia seguinte, do que tentar voltar para casa já naquele estado alcoolizado, correndo um sério risco de ser atropelado no meio do caminho.

Para muitos de nós, atitudes como esta estaria fora de cogitação.... Quem de nós atenderia ao tal homem?? Mas o Chico entendia perfeitamente que "atender" pode e deve estar além do que julgamos certo ou errado.
Se ele tivesse negado ou tentado convencer o homem a não beber mais e voltar naquela hora para casa, talvez realmente o Chico teria ido ao velório do alcoolatra no dia seguinte.
Atender ao pedido do outro neste caso pode ser sim uma questão de sensatez muito mais importante do que supérfluos julgamentos do que venha a ser moralmente certo ou errado.
Além disso, o outro tem o direito dele! Deus lhe deu esse direito.. quem somos nós para querer retirá-lo?

Nem sempre o que julgamos ser o certo realmente, nos pedidos do próximo, o é de fato; e se ainda assim claramente for, o direito dele ainda é nestas horas maior do que o nosso.
Talvez inclusive cheguemos à conclusões de que estávamos errados e que o que é certo para nós, não necessariamente é para o outro.

Essa também é mais uma profunda reflexão que devemos fazer acêrca das nossas posturas;
refletir até que ponto somos de fato amigos dos nossos amigos ou estamos apenas fazendo o que achamos que é "melhor" para ele sendo autoritários e egoístas disfarçados de "protetores", cuidando muitas vezes mais dos nossos interêsses com isso do que nos dispormos a sermos prestativos ao outro.
Lembrei também de Madre Tereza de Calcutá....
Conta sua biografia que quando começou a trabalhar com os pobres, encontrou-os numa situação muito complicada de fome em Calcutá.
Não tendo como resolver de forma mais "acertada" ao problema de centenas de pessoas, ela foi buscar alimento no lixão da cidade.
Os guardas quizeram impedí-la dizendo que ali só se encontravam restos e muitos deles além de sujos já apodrecidos... e que ela não poderia dar aquela comida aos pobres...
Não tendo de onde tirar alimento para tanta gente, Madre Tereza dialogou e explicou, pedindo que compreendessem que ali era o único alimento que toda aquela gente teria para saciar um pouco sua fome e lhes implorou a permissão de modo temporário até que encontrasse uma outra maneira de resolver a questão.
Sem ter mais argumentos contra a irmã, sabendo que inclusice ela própria também se alimentaria daquele lixo, permitiram na condição de que não ficasse se repetindo por muito tempo àquela situação.
Madre Tereza ciente da importância daquele ato, agradeceu e alimentou muitas pessoas com a ajuda de outros tantos voluntários que se comoveram com suas boas intenções.
Agora analisemos do lado de cá:
Quantos de nós não à condenaríamos senão à conhecessêmos como hoje??
Imagine se ela não fizesse aquilo na "intenção" de não causar doenças aos pobres ou mesmo dizendo aos famintos que aquela comida era um "lixo" ?
Ela não pensou em dizer não aos que tinham fome... ela disse sim... vou alimentá-los seja do jeito que for... "certo" ou errado aos olhos dos outros... preciso atender ao pedido por alimento de tanta gente....
estava ali respeitando o livre-arbítrio dos famintos de quererem ou não se alimentarem daquela "comida".

Uma outra passagem muito instrutiva refere-se à Jesus com os apóstolos.
Certo dia um deles questionou à Jesus se não seria melhor primeiro as pessoas serem curadas, para só depois ouvir melhor os ensinamentos dele - ?!
Sem sofrimentos e dores quem sabe poderiam assimilar melhor suas palavras.
Jesus não discordou - fez exatamente o que este e os outros apóstolos estajam sugerindo.
Logo depois de curadas, as pessoas começaram a sair de perto dando suas desculpas e foram embora.
Jesus então explicou que o sofrimento para algumas pessoas era exatamente a melhor maneira delas o escutarem.
A questão aqui não é se falar dos sofrimentos; aqui falamos que Jesus ATENDEU os seus apóstolos. Ele não se negou ou polemizou nada.
Sua conduta foi apenas e simplesmente a de atendê-los - a resposta veio depois por si só.

Vejamos que tanto Jesus, Madre Tereza quanto Chico Xavier não entraram no mérito do certo ou errado - apenas fizeram o que os outros queriam e pediam e que como "amigos" reais das pessoas, podiam e deviam fazer.

Se suas atitudes estivessem certas ou erradas, logo depois todos saberiam - e foi o que aconteceu com cada uma das situações que citei. Os apóstolos entenderam mais um dos ensinos de Jesus.... o homem dormiu em segurança no chão do bar até que no dia seguinte pudesse voltar lúcido para casa e centenas de pessoas puderam enfim saciar um pouco a sua fome!

Lições como estas, deveríamos refletir sempre que nos chegassem pedidos, afim de que as pessoas, certas ou erradas, aprendam por si mesmas. Nem sempre nós estaremos certos e muitas vezes às próprias pessoas estão.
Nosso orgulho ou prepotência não pode falar mais alto.
Amizade é um dos sentimentos mais amplos e importantes que todos deveríamos nos empenhar em desenvolver, até porque "caminhem juntos enquanto há luz!", nos orientou Jesus.
Creio que vale sempre refletirmos sobre o respeito ao livre-arbítrio de nosso amigo... da vontade dele.. do que ele nos pede...
Amigo tem que ser confiável...tem que ser presente... tem que se poder contar.... até mesmo sem a concordância dele.

Muita Paz
Andy

2 comentários:

VIDA disse...

GOSTEI DE SUA COLOCAÇÃO,AS VEZES NOSSAS ATITUDES SAÕ CRITICADAS, MAS NÃO DEVEMOS PARAR

Unknown disse...

Muito bonita a história do chico.