quinta-feira, 27 de abril de 2006

Meditação: Uma disciplina espiritual - XIV Dalai Lama


(Do livro "Transformando a Mente", XIV Dalai Lama[1], trad. Waldéa Barcellos, transcrito com autorização da Editora Martins Fontes - http://www.martinsfontes.com)

O que entendemos por meditação ? Do ponto de vista budista, a meditação é uma disciplina espiritual, que nos permite algum nível de controle sobre nossos pensamentos e emoções.

Por que não conseguimos desfrutar da felicidade duradoura que buscamos ? É por que com tanta freqüência deparamos com o sofrimento e a infelicidade em seu lugar ? O budismo esclarece que, no nosso estado mental normal, nossos pensamentos são descontrolados e rebeldes; e, como nos falta a disciplina mental para dominá-los, somos incapazes de controlá-los. Resultado, são eles que nos controlam. E os pensamentos e emoções, por sua vez, costumam ser controlados pelos nossos impulsos negativos, em vez de o serem pelos positivos. Precisamos inverter esse ciclo, de modo que nossos pensamentos e emoções sejam liberados da subserviência aos impulsos negativos e que nós mesmos, na nossa individualidade, ganhemos controle sobre nossa própria mente.

A idéia de produzir uma mudança tão fundamental em nós mesmos pode à primeira vista parecer impossível. No entanto, é realmente possível realizar essa mudança através de um processo de disciplina tal como a meditação. Escolhemos um objeto específico, e então treinamos a mente desenvolvendo nossa capacidade de manter a atenção concentrada no objeto. Normalmente, se tirarmos apenas um momento para refletir, veremos que nossa mente é totalmente dispersiva. Podemos estar pensando em alguma coisa e, de repente, descobrimos que fomos distraídos porque algum outro pensamento entrou na nossa cabeça. Nossos pensamentos estão constantemente correndo atrás disso ou daquilo porque não temos a disciplina de concentrar a atenção. Portanto, através da meditação, o que podemos alcançar é a capacidade de voltar nossa mente para qualquer objeto determinado e focalizar a atenção nele, de acordo com nossa vontade.

Ora, é evidente que poderíamos decidir enfocar um objeto negativo na nossa meditação. Se, por exemplo, alguém estiver apaixonado por uma pessoa e concentrar a mente exclusivamente nesta pessoa, insistindo em pensar nas suas qualidades desejáveis, isso terá o efeito de aumentar seu desejo sexual por aquela pessoa. Mas não é esse o objetivo da meditação. De uma perspectiva budista, a meditação deve ser praticada em relação a um objeto positivo, com o que queremos dizer um objeto que aumente nossa capacidade de concentração. Através da familiaridade, nós nos aproximamos cada vez mais do objeto e temos uma sensação de envolvimento com ele. Na literatura budista clássica, esse tipo de meditação é descrito como shamatha, a permanência serena, que é uma meditação de ponto único de concentração.

A shamatha em si só não basta. No budismo, associamos a meditação de ponto único à prática da meditação analítica, que é conhecida como vipasyana, discernimento penetrante. Nessa prática, aplicamos o raciocínio. Quando reconhecemos os pontos fortes e fracos de diferentes tipos de pensamentos e emoções, bem como suas vantagens e desvantagens, conseguimos aprimorar nossos estados mentais positivos que contribuem para uma sensação de serenidade, tranqüilidade e contentamento além de reduzir a incidência daquelas atitudes e emoções que conduzem ao sofrimento e à insatisfação. Desse modo, o raciocínio desempenha um papel de grande auxílio nesse processo.

Eu deveria salientar que os dois tipos de abordagem meditativa que descrevi, a de ponto único e a analítica, não se distinguem pelo fato de cada uma contar com um tipo diferente de objeto. A diferença entre elas reside no modo pelo qual cada uma é aplicada, não no objeto escolhido.

Para esclarecer mais este ponto, vou recorrer ao exemplo da meditação sobre a impermanência. Se aquele que medita se mantiver concentrado no pensamento de que tudo muda de um momento para outro, essa é a meditação de ponto único; ao passo que, se alguém meditar sobre a impermanência através da aplicação constante, a tudo o que encontrar, dos diversos argumentos referentes à natureza impermanente das coisas, reforçando sua convicção no fato da impermanência por meio desse processo analítico, ele estará praticando a meditação analítica sobre a impermanência. As duas têm um objeto comum, a impermanência, mas o modo de aplicação de cada meditação é diferente.

Minha impressão é que os dois tipos de meditação são de fato praticados em quase todas as tradições religiosas mais importantes. No caso da Índia antiga, por exemplo, a prática da meditação de ponto único e a aplicação da meditação analítica são comuns a todas as tradições religiosas importantes, budistas e não-budistas. Durante uma conversação com um amigo cristão alguns anos atrás, eu soube que no cristianismo, em especial na tradição ortodoxa grega, existe uma longa e sólida história de meditação contemplativa. E, da mesma forma, uma série de rabinos judeus falou comigo sobre certas práticas místicas no judaísmo que envolvem uma forma de meditação de ponto único.

É portanto possível integrar os dois tipos de meditação numa religião teísta. Um cristão, por exemplo, poderia dedicar-se à contemplação refletindo sobre os mistérios do mundo, sobre o poder da graça divina ou sobre várias razões que considere intensamente inspiradoras e que aumentem sua crença no divino Criador. Através de um processo dessa natureza, o indivíduo poderia chegar a uma profunda fé em Deus, e poderia então pousar sua mente nesse estado, mantendo o foco nesse ponto único. Desse modo, o praticante chega a uma meditação de ponto único sobre Deus através de um processo analítico. Portanto, os dois aspectos da meditação estão presentes.


--------------------------------------------------------------------------------

Observações - GEAE

[1] Entre os grandes lideres espirituais dos nossos dias está o XIV Dalai Lama, que não só é o lider religioso do Budismo Tibetano, como até 1949, início da anexação do Tibet pela China, foi o governante deste país. Tendo sido forçado a exilar-se no Nepal, o Dalai Lama, tem dedicado sua vida a buscar uma solução pacifica e digna para a autonomia do povo tibetano, tendo inclusive recebido o premio Nobel da Paz de 1989. Paralelamente, na sua função de expoente máximo de sua religião, tem contribuído enormemente para a difusão do Budismo Tibetano, demonstrando-o na sua vivência prática, explicando-o em inumeráveis congressos ou eventos, e colocando sua riqueza doutrinária ao acesso de todos em diversos livros. Em sua longa história, o Budismo deu origem a algumas escolas de pensamento diferentes, entre as quais se encontra a presidida pelo Dalai Lama, todas elas compartilhando um profundo conhecimento da psicologia humana e da busca pela realidade interior. O texto que transcrevemos tem por objetivo mostrar aos colegas quão interessantes são estes conhecimentos para nós espíritas.

(Publicado no Boletim GEAE Número 409 de 23 de janeiro de 2001)

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Doadores de Paz


"Não penseis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer paz, mas espada". - Jesus.(Mateus, 10:34.)


Os obreiros da paz são sempre esteios benditos, na formação da felicidade humana.

Os que falam na concórdia . . .

Os que escrevem, concitando a serenidade . . .

Os que pregam a necessidade de entendimento . . .

Os que exortam à harmonia . . .

Os que trabalham pelo equilíbrio . . .


Os verdadeiros pacificadores, no entanto, compreendem que a paz se levanta por dentro da lutae, por isso mesmo, não ignoram que ela é construída - laboriosamente construída - por aqueles que se dedicam à edificação do Reino do Amor, entre as criaturas, tais quais sejam:

Os que carregam os fardos dos companheiros, diminuindo-lhes as preocupações;

Os que agüentam, sozinhos, pesados sacrifícios para que os entes queridos não se curvem, sob o peso da angústia;

Os que procuram esquecer-se para que outros se façam favorecidos ou destacados;

Os que abraçam responsabilidades e compromissos de que já se sentem dispensados, para que haja mais amplas facilidades no caminho dos semelhantes.

Em certa ocasião, disse-nos Jesus: - «Eu não vim trazer paz à Terra e sim a divisão»; entretanto, em outro lance dos seus ensinamentos, afirmou-nos, convincente: - A minha paz vos dou, mas não vo-la dou como o mundo a dá».

O Divino Mestre deu-nos claramente a perceber que, para sermos construtores da paz, é preciso saber doar-lhe o bálsamo vivificante, em favor dos outros, conservando, bastas vezes, o fogo da luta pelo próprio burilamento, no fechado recinto do coração.


Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier - Emmanuel.
Do livro "Mais Perto”

sábado, 22 de abril de 2006

Senhor Jesus


Agradecendo-te o amparo de todos os dias, eis-nos aqui, de espírito, ainda em súplica, no campo em que nos situastes.

Ensina-nos a procurar na vida eterna a beleza e o ensinamento da temporária vida humana!

Apesar de amadurecidos para o conhecimento, muitas vezes somos crianças pelo coração.

Ágeis no raciocínio, somos tardios no sentimento.

Em muitas ocasiões, dirigimo-nos à tua infinita Bondade, sem saber o que desejamos.

Não nos deixes, assim, em nossas próprias fraquezas!

Nos dias de sombra, sê nossa luz!

Nas horas de incerteza, sê nosso apoio e segurança!

Mestre Divino!

Guia-nos o passo na senda reta.

Dá-nos a consciência da responsabilidade com que nos enriqueces o destino.

Auxilia-nos para que o suor do trabalho nos alimente o lume da fé.

Não admitas que o verme do desalento nos corroa o ideal e ajuda-nos para que a ventania da perturbação não nos inutilize a sementeira.

Educa-nos para que possamos converter os detritos do temporal em adubo que nos favoreça a tarefa.

Ao redor da leira que nos confiaste, rondam aves de rapina, tentando instilar-nos desânimo e discórdia...

Não longe de nós, flores envenenadas deitam capitoso aroma, convidando-nos ao repouso inútil, e aves canoras da fantasia, através de melodias fascinantes, concitam-nos a ruinosa distração...

Fortalece-nos a vigilância para que não venhamos a cair.

Dá-nos coragem para vencer a hesitação e o erro, a sombra e a tentação que nascem de nós.

Faze-nos compreender os tesouros do tempo, a fim de que possamos multiplicar os créditos de conhecimento e de amor que nos emprestaste.

Divino Amigo!

Sustenta-nos as mãos no arado de nossos compromissos, na verdade e no bem, e não permitas, em tua misericórdia, que os nossos olhos se voltem para trás.

Que a tua vontade, Senhor, seja a nossa vontade, agora e para sempre.

Assim seja.

Emmanuel

Do livro "Instruções Psicofônicas" Psicografada por Francisco Cândido Xavier

--------------
Esse livro é excelente... são várias mensagens recebidas em reuniões mediúnicas.. vale a pena ler!!
Muita paz!
Andy

terça-feira, 11 de abril de 2006

Glândula Pineal


Freqüentemente, a glândula pineal surge como o centro de nosso relacionamento com outras dimensões, e tem sido assim nas mais variadas correntes religiosas e místicas, há milhares de anos. O especialista no assunto, dr. Sérgio Felipe de Oliveira, conversou conosco sobre o assunto, mostrando os avanços da ciência no sentido de desvendar esse mistério.

- Paula Calloni de Souza

O mistério não é recente. Há mais de dois mil anos, a glândula pineal, ou epífise, é tida como a sede da alma. Para os praticantes do ioga, a pineal é o ajna chakra, ou o "terceiro olho", que leva ao autoconhecimento. O filósofo e matemático francês Renê Descartes, em Carta a Mersenne, de 1640, afirma que "existiria no cérebro uma glândula que seria o local onde a alma se fixaria mais intensamente".

Atualmente, as pesquisas científicas parecem ter se voltado definitivamente para o estudo mais atento desta glândula. Estaria a humanidade próxima da comprovação científica da integração entre o corpo e a alma? Haveria um órgão responsável pela interação entre o homem e o mundo espiritual? Seria a mediunidade, de fato, um atributo biológico e não um conceito religioso, como postulou Allan Kardec?

Para responder a estas e outras perguntas, a revista Espiritismo & Ciência conversou com o psiquiatra e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo, dr. Sérgio Felipe de Oliveira. Diretor-clínico do Instituto Pineal Mind, e diretorpresidente da AMESP (Associação Médico-Espírita de São Paulo), Sérgio Felipe de Oliveira é um dos maiores pesquisadores na área de Psicobiofísica da USP, e vem ganhando destaque nos meios de comunicação com suas pesquisas acerca do papel da glândula pineal em fenômenos ligados à mediunidade.

Fale um pouco sobre seu trabalho à frente da AMESP e do Instituto Pineal Mind.

A AMESP é uma associação de utilidade pública que reúne médicos dedicados ao estudo da relação entre a medicina e a espiritualidade. O Pineal Mind é minha clínica, um instituto de saúde mental, onde fazemos pesquisas e atendemos psicoses, síndromes cerebro-vasculares, ansiedades, depressão, psicoses infantis, uso de drogas e álcool. Temos um setor de psiconcologia (psicologia aplicada ao câncer) e estudamos também os aspectos psicossomáticos ligados à cardiologia, etc. Agora, particularmente nas pesquisas comportamentais, eu estudo os estados de transe e a mediunidade. Mas não pesquiso só a glândula pineal; ela é o que eu pesquiso no cérebro, interessado em entender a relação entre corpo e espírito.


O que é psicobiofísica?

É a ciência que integra a psicologia, a física e a biologia. Na biologia, estudamos o lobo frontal, responsável pela crítica da razão; mas o cérebro funciona eletricamente - aí entra a física, que serve de substrato para o pensamento crítico, que é o psicológico.

Quando surgiu seu interesse no aprofundamento do estudo da pineal?

Foi por volta de 1979/80, quando eu estava estudando a obra de André Luiz, psicografada por Chico Xavier. Em Missionários da Luz, a pineal é claramente citada. Nesta mesma época, eu já pleiteava o curso de Medicina. No colégio, estudando Filosofia, fiquei impressionado com a obra de Descartes, que dizia que a alma se ligava ao corpo pela pineal.Quando entrei na faculdade, corri atrás destas questões, do espiritual, da alma e de como isso se integra ao corpo.

O que é a glândula píneal, onde está localizada e qual a sua função no organismo?

A pineal está localizada no meio do cérebro, na altura dos olhos. Ela é um órgão cronobiológico, um relógio interno. Como ela faz isso? Captando as radiações do Sol e da Lua. A pineal obedece aos chamados Zeitbergers, os elementos externos que regem as noções de tempo. Por exemplo, o Sol é um Zeitberger que influencia a pineal, regendo 0 ciclo de sono e de vigília, quando esta glândula secreta o hormônio melatonina. Isso dá ao organismo a referência de horário. Existe também o Zeitberger interno, que são os genes, trazendo o perfil de ritmo regular de cada pessoa. Agora, o tempo é uma região do espaço. A dimensão espaço-tempo é a quarta dimensão. Então, a glândula que te dá a noção de tempo está em contato com a quarta dimensão. Faz sentido perguntarmos: "Será que a partir da quarta dimensão já existe vida espiritual?" Nós vivemos em três dimensões e nos relacionamos com a quarta, através do tempo. A pineal é a única estrutura do corpo que transpõe essa dimensão, que é capaz de captar informações que estão além dessa dimensão nossa. A afirmação de Descartes, do ponto em que a alma se liga ao corpo, tem uma lógica até na questão física, que é esta glândula que lida com a outra dimensão, e isso é um fato.

Outros animais possuem a epífise? Ela está relacionada á consciência?

Todos os animais têm essa glândula; ela os orienta nos processos migratórios, por exemplo, pois ela sintoniza o campo magnético. Nos animais, a glândula pineal tem fotorreceptores iguais aos presentes na retina dos olhos, porque a origem biológica da pineal é a mesma dos olhos, é um terceiro olho, literalmente.

Esta glândula seria resquício de algum órgão que está se atrofiando, ou estaria ligada a uma capacidade psíquica a ser desenvolvida?

Eu acredito que a pineal evoluiu de um órgão fotorreceptor para um órgão neuroendócrino. A pineal não explica integralmente o fenômeno mediúnico, como simplesmente os olhos não explicam a visão. Você pode ter os olhos perfeitos, mas não ter a área cerebral que interprete aquela imagem. É como um computador: você pode ter todos os programas em ordem, mas se a tela não funciona, você não vê nada. A pineal, no que diz respeito à mediunidade, capta o campo eletromagnético, impregnado de informações, como se fosse um telefone celular. Mas tudo isso tem que ser interpretado em áreas cerebrais, como por exemplo, o córtex frontal. Um papagaio tem a pineal, mas não vai receber um espírito, porque ele não tem uma área no cérebro que lhe permita fazer um julgamento. A mediunidade está ligada a uma questão de senso-percepção.

Então, a ela não basta a existência da glândula pineal, mas sim, todo o cone que vai até o córtex frontal, que é onde você faz a crítica daquilo que absorve. A mediunidade é uma função de senso (captar)-percepção (faz a crítica do que está acontecendo). Então, a mediunidade é uma função humana.

A pineal converte ondas eletromagnéticas em estímulos neuroquímicos? Isso é comprovado cientificamente?

Sim, isso é comprovado. Quem provou isso foram os cientistas Vollrath e Semm, que têm artigos publicados na revista científica Nature, de 1988.

A parapsicologia diz que estes campos eletromagnéticos podem afetar a mente humana. O dr. Michael Persinger, da Laurentian University, no Canadá, fez experiências com um capacete que emite ondas eletromagnéticas nos lobos temporais. As pessoas submetidas a essas experiências teriam tido "visões" e sentiram presenças espirituais. O dr. Persinger atribui esses fenômenos à influência dessas ondas eletromagnéticas O que o senhor teria a dizer sob isso?

Veja, o espiritual age pelo campo eletromagnético. Então, dizer que este campo interfere no cérebro não contraria a hipótese de uma influência espiritual. Porque, se há uma interferência espiritual, esta se dá justamente pelo campo eletromagnético. Quando se fala do espiritual, em Deus, a interferência acontece na natureza pelas leis da própria natureza. Se o campo magnético interfere no cérebro, a espiritualidade interfere no cérebro PELO campo magnético. Uma coisa não anula a outra. Pelo contrário, complementam-se.

A mediunidade seria atributo biológico e não um conceito religioso? Existe uma controvérsia no meio cientifico a esse respeito?

A mediunidade é um atributo biológico, acredito, que acontece pelo funcionamento da pineal, que capta o campo eletromagnético, através do qual a espiritualidade interfere. Não só no espiritismo, mas em qualquer expressão de religiosidade, ativa se a mediunidade, que é uma ligação com o mundo espiritual.

Um hindu, um católico, um judeu ou um protestante que estiver fazendo uma prece, está ativando sua capacidade de sintonizar com um plano espiritual. Isso é o que se chama mediunidade, que é intermediar. Então, isso não é uma bandeira religiosa, mas uma função natural, existente em todas as religiões. E isso deve acontecer através do campo magnético, sem dúvida. Se a espiritualidade interfere, é pelo campo eletromagnético, que depois é convertido, pela pineal, em estímulos eletroneuroquímicos. Não existe controvérsia entre ciência e espiritualidade, porque a ciência não nega a vida após a morte. Não nega a mediunidade. Não nega a existência do espírito. Também não há uma prova final de que tudo isto existe. Não existe oposição entre o espiritual e o científico. Você pode abordar o espiritual com metodologia científica, e o espiritismo sempre vai optar pela ciência. Essa é uma condição precípua do pensamento espírita. Os cientistas materialistas que disserem "esta é minha opinião pessoal", estarão sendo coerentes. Mas se disserem que a opção materialista é a opinião da ciência, estarão subvertendo aquilo que é a ciência. A American Medicai Association, do Ministério da Saúde dos EUA, possui vários trabalhos publicados sobre mediunidade e a glândula pineal. O Hospital das Clínicas sempre teve tradição de pesquisas na área da espiritualidade e espiritismo. Isso não é muito divulgado pela imprensa, mas existe um grupo de psiquiatras lá defendendo teses sobre isso.

Como são feitas as experiências em laboratório?

Existem dois tipos: um, que é a experiência de pesquisa das estruturas do cérebro, responsáveis pela integração espírito/corpo; e outra, que é a pesquisa clínica, das pessoas em transe mediúnico. São testes de hormônios, eletroencefalogramas, tomografias, ressonância magnética, mapeamento cerebral, entre outros. A coleta de hormônios, por exemplo, pode ser feita enquanto o paciente está em estado de transe. E os resultados apresentam alterações significativas.

As alterações em exames de tomografia, por exemplo, são exclusivas ou condizentes com outras patologias? O senhor descarta a hipótese de uma crise convulsiva?

Isso é bem claro: a suspeita de uma interferência espiritual surge quando a alteração nos exames não justifica a dimensão ou a proporção dos sintomas. Por exemplo: o indivíduo tem uma crise convulsiva fortíssima, é feito o eletroencefalograma e aparece uma lesão pequena. Não há, então, uma coerência entre o que está acontecendo e o que o exame está mostrando. A reação não é proporcional à causa. A mediunidade mexe com o sistema nervoso autônomo - descarga de adrenalina, aceleração do ritmo cardíaco, aumento da pressão arterial.

Como o senhor diferencia doença mental de mediunidade?

Na doença mental, o paciente não tem crítica da razão; no transe mediúnico, ele tem essa crítica. Quando o médium diz que incorporou tal entidade espiritual, mas que ele, médium, continua sendo determinada pessoa, ele usou a crítica, julgou racionalmente o que aconteceu. Agora, um indivíduo que diz ser Napoleão Bonaparte? Aí ele perdeu a crítica da razão. Essa é a diferença. O que não quer dizer que o indivíduo que esteja em psicose não possa estarem transe também. A mediunidade se instala no indivíduo são, ou pode dar uma dimensão muito maior a uma doença. A mediunidade sempre vai dar um efeito superlativo. Se a pessoa alimenta bons sentimentos, ela cresce. Se ela tem uma doença, aquela doença pode ficar fora de controle.

É verdade que a pineal se calcifica com a meia-idade? E essa calcificação prejudica a mediunidade?

Não, a pineal não se calcifica; ela forma cristais de apatita, e isso independe da idade. Estes cristais têm a ver com o perfil da função da glândula. Uma criança pode ter estes cristais na pineal em grande quantidade enquanto um adulto pode não ter nada. Percebemos, pelas pesquisas, que quando um adulto tem muito destes cristais na pineal, ele tem mais facilidade de seqüestrar o campo eletromagnético. Quando a pessoa tem muito desses cristais e sequestra esse campo magnético, esse campo chega num cristal e ele é repelido e rebatido pelos outros cristais, e este indivíduo então apresenta mais facilidade no fenômeno da incorporação. Ele incorpora o campo com as informações do universo mental de outrem. É possível visualizar estes cristais na tomografia. Observamos que quando o paciente tem muita facilidade de desdobramento, ele não apresenta estes cristais.

As crianças teriam mais sensibilidade mediúnica?

A mediunidade na criança é diferente da de um adulto. É uma mediunidade anímica, é de saída. Ela sai do corpo e entra em contato com o mundo espiritual.

A pineal pode ser estimulada com a entoação de mantras, como pregam os místicos?

A glândula está localizada em uma área cheia de líquido. Talvez o som desses mantras faça vibrar o líquido, provocando alguma reação na glândula. Os cristais também recebem influências de vibração. Deve vibrar o líquor, a glândula, alterando o metabolismo. Teria lógica.

Em que se concentrarão seus próximos estudos?

Estou preparando um estudo sobre Cronogenética da Reencarnação. Mas, sobre isso, falarei mais detalhadamente em 2003, durante o Congresso Médico-Espírita.

Notas:
--------------------------------------------------------------------------------

Revista Espiritismo & Ciência
Número 3 - Páginas 22-27